|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Mortos sem sepultura
RIO DE JANEIRO - Quando Alfred Hitchcock morreu, há 30 anos
(29 de abril de 1980), foi só uma formalidade. Para Hollywood, Hitch já
estava morto. Seu último filme,
"Trama Macabra", de 1976, fracassara, e era improvável que, aos 80, o
deixassem dirigir outro. Não importava que, num passado quase recente, ele tivesse feito "Janela Indiscreta", "Um Corpo que Cai" e
"Os Pássaros". Naquele momento, a
Universal o mantinha apenas para
visitação, como se empalhado vivo.
É verdade. O estúdio lhe dera
uma sala, um telefone e uma secretária, com o que todos os dias
Hitchcock ia "trabalhar". Seu expediente consistia em receber aspirantes a roteiristas, analisar projetos e, quem sabe, desenvolver um
deles em função de um filme que
nunca seria rodado. Ou dar entrevistas para livros a seu respeito. Ou
ser apresentado a turistas em excursão pelo estúdio, sendo um dos
"highlights" a casa de "Psicose", que
nunca foi derrubada.
Assim, os últimos anos de Hitchcock resumiam-se a contar, pela
enésima vez, como Grace Kelly era
seu ideal de mulher -esperava convencê-la a voltar a filmar com ele-,
a falar dos filmes que sonhava fazer
e a pensar que ainda era Hitchcock.
A United fez o mesmo com Billy
Wilder. O gênio de "Crepúsculo dos
Deuses" e "Quanto Mais Quente,
Melhor" rodou seu último filme,
"Amigos, Amigos, Negócios à Parte", em 1981, aos 74 anos, e passou
os 21 anos seguintes encostado, lúcido e amargurado. Mas nada se
compara ao desterro de Frank Capra: o diretor de "A Mulher Faz o
Homem" encerrou a carreira aos 64
anos, em 1961, com "Dama por um
Dia", e só morreu 30 anos depois.
Por que isso? Porque as companhias de seguros não bancavam cineastas a partir de certa idade. Hoje
isso não é problema. O português
Manuel de Oliveira tem 101 anos e
continua lampeiro e dirigindo.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Ideologia zero Próximo Texto: Cesar Maia: Pesquisas eleitorais! Índice
|