São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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A chance de o Brasil vencer a Copa é grande?

NÃO

Azarão dos favoritos

LUIZ GONZAGA BELLUZZO

Que os brasileiros não subestimem a França depois da derrota para Senegal. A Argentina, em 1990, estreou com uma derrota para Camarões, eliminou o Brasil nas oitavas e disputou a final da Copa com a Alemanha.
Talvez muitos tenham razão em afirmar que não há mais "time bobo" no futebol de hoje. Há 40 anos a hierarquia técnica era mais clara e os times africanos, asiáticos e da América Central participavam -quando conseguiam uma vaga, chorada- como figurantes e vítimas de goleadas na competição mundial de seleções. Zebras aconteciam, mas, naquele tempo, zebra era zebra.
Na hora do "vamos ver", o grupo de favoritos e ganhadores se resumia a poucos países, como Itália, Brasil, Alemanha, Argentina e, apenas um degrau abaixo, Inglaterra, Holanda, França e Uruguai. De tempos em tempos, uma seleção européia fazia sua "aparição", para logo depois sumir nas brumas de suas limitações. Assim foi a Suécia, em 1958, Portugal, em 1966, e a Dinamarca, em 1986.
Vou arriscar a pele, fazendo uma previsão: apesar da graduação técnica das equipes mais fracas e do nivelamento entre os melhores, quem apostar no grupo de elite do futebol mundial terá maiores chances de acertar o ganhador da Copa de 2002. Favor excluir o Uruguai, em franca decadência, e a Holanda, que não disputa esta fase final.
O Brasil ainda está na turma forte. Foi medíocre nas eliminatórias, é verdade. Quem tem janela futebolística sabe que a seleção brasileira sempre saiu do país para disputar a Copa do Mundo sob o fogo cerrado das críticas e dilacerada por divergências sobre a convocação e a escalação de jogadores. Desta vez, viajou solitária, sem entusiasmo popular e, salvo a campanha pró-Romário, as controvérsias sobre convocações e escalação foram mornas e desinteressadas.
Avaliada com isenção, a recomendada e a permitida, a seleção brasileira é o azarão entre os favoritos. Melhor do que ser o favorito entre os azarões.
A fragilidade do time está no meio-de-campo, formado por jogadores sovinas na criação, ainda que eficientes na marcação. O desempenho da seleção vai depender mais do que nunca do que fizerem os dois laterais e o trio Rivaldo e os dois Ronaldos. Isso significa que a torcida brasileira está entregue ao imponderável e é pura ilusão achar que Denílson vai mudar as coisas.
Além dos problemas físicos, falta regularidade aos craques do time. Por isso mesmo é arriscado afirmar que eles são craques de verdade. São bons jogadores, habilidosos, mas passam a impressão de fragilidade nos momentos de decisão. No jogo da bola, a personalidade e o espírito de vencedor são, frequentemente, mais importantes do que um toque genial. Se for possível juntar as duas virtudes, tanto melhor.
Os adversários da primeira fase são modestos. A Turquia pode endurecer, mas será uma grande surpresa se conseguir dobrar o Brasil. Nos jogos preparatórios o time turco não deixou boa impressão. A Costa Rica evoluiu muito, como todas as seleções da Concacaf. Mas ainda falta muito para enfrentar times de mais tradição em competições como a Copa. A China aposta na correria, com alguma disciplina tática. Meio tempo de muito trabalho, depois sucumbirá.
Além das oitavas, a briga é de cachorro grande. Aí veremos se o azarão entre os favoritos terá gás para chegar à final. Formei duas convicções: não temos um time de pernas-de-pau; tampouco jogamos o melhor futebol do mundo.


Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, 59, é professor titular de economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos da Ministério da Fazenda (governo Sarney).


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