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EDITORIAIS
DEPOIS DO PENTA
A seleção do Brasil conquistou
ontem o seu quinto título de
campeão mundial. O forte envolvimento emocional que precedeu e
acompanhou a partida final contra a
seleção da Alemanha é tão saudável
quanto as comemorações que se seguiram ao apito final. O país sentiu
uma mistura de felicidade e orgulho.
O futebol é de há muito, na cultura
brasileira, uma linguagem privilegiada na intermediação do sentimento
de identidade nacional.
Os jogadores sabiam, mesmo que
de forma difusa, que acumularam
com a tarefa esportiva esse componente cultural. A crise do futebol,
diagnosticada até pela CPI do Senado, não esmoreceu o time comandado por Luiz Felipe Scolari.
Mas o torcedor já começou a se
despir da camisa verde e amarela.
Volta agora a uma realidade desprovida da coreografia dos gramados e
do desfecho espetacular.
O cotidiano não é glamouroso. Na
percepção subjetiva de grande parte
das pessoas, há muito trabalho para
pouco divertimento e lazer. E há sobretudo um Brasil das coisas sérias
pela frente. O Brasil das más notícias, do desempenho discutível de
governantes, dos efeitos econômicos
de uma nova onda especulativa.
Nem por isso, porém, o brasileiro
deixa de ter disposição para participar do jogo coletivo das grandes opções. Mesmo que sem entusiasmo,
ele votará para presidente, respondendo por vezes a um bombardeio
de informações filtradas pelos marqueteiros.
O brasileiro ainda continuará a
exercer seu atávico ceticismo. Não
acreditará nas boas notícias que cheguem eventualmente de Brasília. Se
conectado à internet, dará crédito a
"informações" alarmistas que continuará a receber por e-mail. Falará
mal das sogras, rirá com piadas de
papagaio e esperará por uma nova
Copa. Para então muitos embandeirarem os vidros de seus automóveis e
outros tantos enfeitarem as janelas
de suas casas. E sorrirem felizes com
a esperança.
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