São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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EDITORIAIS

DEPOIS DO PENTA

A seleção do Brasil conquistou ontem o seu quinto título de campeão mundial. O forte envolvimento emocional que precedeu e acompanhou a partida final contra a seleção da Alemanha é tão saudável quanto as comemorações que se seguiram ao apito final. O país sentiu uma mistura de felicidade e orgulho. O futebol é de há muito, na cultura brasileira, uma linguagem privilegiada na intermediação do sentimento de identidade nacional.
Os jogadores sabiam, mesmo que de forma difusa, que acumularam com a tarefa esportiva esse componente cultural. A crise do futebol, diagnosticada até pela CPI do Senado, não esmoreceu o time comandado por Luiz Felipe Scolari.
Mas o torcedor já começou a se despir da camisa verde e amarela. Volta agora a uma realidade desprovida da coreografia dos gramados e do desfecho espetacular.
O cotidiano não é glamouroso. Na percepção subjetiva de grande parte das pessoas, há muito trabalho para pouco divertimento e lazer. E há sobretudo um Brasil das coisas sérias pela frente. O Brasil das más notícias, do desempenho discutível de governantes, dos efeitos econômicos de uma nova onda especulativa.
Nem por isso, porém, o brasileiro deixa de ter disposição para participar do jogo coletivo das grandes opções. Mesmo que sem entusiasmo, ele votará para presidente, respondendo por vezes a um bombardeio de informações filtradas pelos marqueteiros.
O brasileiro ainda continuará a exercer seu atávico ceticismo. Não acreditará nas boas notícias que cheguem eventualmente de Brasília. Se conectado à internet, dará crédito a "informações" alarmistas que continuará a receber por e-mail. Falará mal das sogras, rirá com piadas de papagaio e esperará por uma nova Copa. Para então muitos embandeirarem os vidros de seus automóveis e outros tantos enfeitarem as janelas de suas casas. E sorrirem felizes com a esperança.


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