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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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CIDADE PICHADA

No início eram frases políticas, que apareciam em muros, a desafiar o silêncio imposto pelo regime militar. Privilegiavam o conteúdo e estavam em sintonia com o que ocorria em outras grandes cidades do mundo, como Paris, em maio de 68, onde a juventude rebelde cunhou slogans memoráveis, como o conhecido "a imaginação no poder". Depois vieram os grafites, uma nova etapa da pichação, que deixava de ser apenas conteudística para tornar-se mais elaborada formalmente.
Há alguns anos, as pichações que passaram a borrar casas, edifícios e monumentos de São Paulo -e de outras grandes cidades brasileiras- começaram a ganhar características novas. Incompreensíveis à primeira tentativa de leitura, esses rabiscos fazem lembrar escritas primitivas. Deles não se depreende intenção propriamente estética ou política -ao menos no sentido convencional.
Trata-se de uma manifestação iniciada por jovens de baixa renda, organizados em grupos, que imprimem pelos quatro cantos da cidade as marcas de sua exclusão social. Agora, como mostrou reportagem publicada ontem pela Folha, a "brincadeira" seduz cada vez mais jovens de classe média.
Por mais que se possa procurar compreender as razões sócio-econômicas e culturais do fenômeno, o fato é que ele vem contribuindo para degradar ainda mais a cidade, em flagrante desrespeito à propriedade e ao patrimônio histórico e cultural.
Pode-se questionar se políticas apenas repressivas são a melhor forma de enfrentar o problema -ainda que nesse quesito, elementar, o poder público pareça complacente, já que, conforme a reportagem, as gangues reúnem-se semanalmente com hora e local marcados.
Merecem apoio iniciativas que possam, de forma positiva, atrair os pichadores para atividades menos predatórias. Inaceitável é que seguidas gestões municipais mostrem-se incapazes de controlar essa verdadeira praga urbana.


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