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CIDADE PICHADA
No início eram frases políticas, que apareciam em muros,
a desafiar o silêncio imposto pelo regime militar. Privilegiavam o conteúdo e estavam em sintonia com o que
ocorria em outras grandes cidades
do mundo, como Paris, em maio de
68, onde a juventude rebelde cunhou
slogans memoráveis, como o conhecido "a imaginação no poder". Depois vieram os grafites, uma nova
etapa da pichação, que deixava de ser
apenas conteudística para tornar-se
mais elaborada formalmente.
Há alguns anos, as pichações que
passaram a borrar casas, edifícios e
monumentos de São Paulo -e de
outras grandes cidades brasileiras-
começaram a ganhar características
novas. Incompreensíveis à primeira
tentativa de leitura, esses rabiscos fazem lembrar escritas primitivas. Deles não se depreende intenção propriamente estética ou política -ao
menos no sentido convencional.
Trata-se de uma manifestação iniciada por jovens de baixa renda, organizados em grupos, que imprimem pelos quatro cantos da cidade
as marcas de sua exclusão social.
Agora, como mostrou reportagem
publicada ontem pela Folha, a "brincadeira" seduz cada vez mais jovens
de classe média.
Por mais que se possa procurar
compreender as razões sócio-econômicas e culturais do fenômeno, o fato é que ele vem contribuindo para
degradar ainda mais a cidade, em flagrante desrespeito à propriedade e
ao patrimônio histórico e cultural.
Pode-se questionar se políticas
apenas repressivas são a melhor forma de enfrentar o problema -ainda
que nesse quesito, elementar, o poder público pareça complacente, já
que, conforme a reportagem, as gangues reúnem-se semanalmente com
hora e local marcados.
Merecem apoio iniciativas que possam, de forma positiva, atrair os pichadores para atividades menos predatórias. Inaceitável é que seguidas
gestões municipais mostrem-se incapazes de controlar essa verdadeira
praga urbana.
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