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São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Ele tem a força. E só

SÃO PAULO - O poder faz muito mal ao raciocínio político. É a única conclusão possível a tirar do artigo do presidente do PT, José Genoino, publicado ontem por esta Folha.
Genoino foi sempre um dos melhores parlamentares da República, avaliação comum tanto a seus companheiros de partido e/ou de esquerda como a expoentes adversários.
Seu artigo de ontem é, por isso mesmo, irreconhecível. Para quem não leu, o presidente do PT defende, pela enésima vez, a punição dos mal chamados radicais do partido, alegando que quem é do PT tem de apoiar o governo do PT.
Seria verdade se não fossem os seguintes fatos:
1 - Os deputados sob julgamento não foram eleitos pelo governo, mas pelo partido. Logo, devem fidelidade, sim, ao partido pelo qual se elegeram, não necessariamente ao governo.
2 - O programa do partido em momento nenhum detalha como seria a reforma da Previdência, que passou a ser o pretexto para a expulsão dos mal chamados radicais.
Ao contrário, diz o seguinte: "Nosso governo, respeitando o princípio do direito adquirido, (...) deve buscar a negociação de um contrato coletivo do setor público, no qual os assuntos trabalhistas e previdenciários devem ser objeto de ampla e democrática negociação" (trata-se do item 56 do livreto "Programa de Governo 2002 - Coligação Lula Presidente - Um Brasil para Todos).
Cadê a proposta de "contrato coletivo do setor público"? Cadê a "ampla e democrática negociação" tanto sobre reforma trabalhista como sobre reforma previdenciária?
Quem, na verdade, está sendo infiel ao partido e a seu programa de campanha é o governo e a atual direção do PT. Genoino já defendeu causas melhores, com melhores argumentos. Agora, só lhe resta o da força.


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