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CLÓVIS ROSSI
Ele tem a força. E só
SÃO PAULO - O poder faz muito mal
ao raciocínio político. É a única conclusão possível a tirar do artigo do
presidente do PT, José Genoino, publicado ontem por esta Folha.
Genoino foi sempre um dos melhores parlamentares da República, avaliação comum tanto a seus companheiros de partido e/ou de esquerda
como a expoentes adversários.
Seu artigo de ontem é, por isso mesmo, irreconhecível. Para quem não
leu, o presidente do PT defende, pela
enésima vez, a punição dos mal chamados radicais do partido, alegando
que quem é do PT tem de apoiar o governo do PT.
Seria verdade se não fossem os seguintes fatos:
1 - Os deputados sob julgamento
não foram eleitos pelo governo, mas
pelo partido. Logo, devem fidelidade,
sim, ao partido pelo qual se elegeram,
não necessariamente ao governo.
2 - O programa do partido em momento nenhum detalha como seria a
reforma da Previdência, que passou
a ser o pretexto para a expulsão dos
mal chamados radicais.
Ao contrário, diz o seguinte: "Nosso
governo, respeitando o princípio do
direito adquirido, (...) deve buscar a
negociação de um contrato coletivo
do setor público, no qual os assuntos
trabalhistas e previdenciários devem
ser objeto de ampla e democrática
negociação" (trata-se do item 56 do
livreto "Programa de Governo 2002 -
Coligação Lula Presidente - Um Brasil para Todos).
Cadê a proposta de "contrato coletivo do setor público"? Cadê a "ampla e democrática negociação" tanto
sobre reforma trabalhista como sobre
reforma previdenciária?
Quem, na verdade, está sendo infiel
ao partido e a seu programa de campanha é o governo e a atual direção
do PT. Genoino já defendeu causas
melhores, com melhores argumentos.
Agora, só lhe resta o da força.
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