São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Escamoteação da verdade
ALUÍZIO ALVES
O governo Sarney deixou pronto o projeto de lei do regime único, mas o presidente Collor adiou o quanto pôde seu envio ao Congresso. 4) Uma das mais deploráveis omissões nesse processo de discussão da reforma da Previdência é a de que o governo em momento nenhum divulgou o montante da renúncia fiscal de recursos da Previdência. Por fim, o ministro, interpelado pelo senador Garibaldi Filho, no Senado, constrangidamente revelou a cifra anual, para a perplexidade de todos, que é de R$ 10 bilhões. 5) A proposta de contribuição dos atuais inativos é algo perverso. O Congresso por quatro vezes rejeitou projetos de lei, e o Supremo Tribunal Federal, em decisão de uns seis anos atrás, considerou-a inconstitucional. 6) O governo, em sua proposta de reforma da Previdência, esqueceu completamente a questão dos débitos e sua execução. Por quê? Por que o governo não propôs a fixação de um rito sumário, preservado o contraditório da defesa, para execução desses débitos? Dinheiro que pertence ao sistema previdenciário. Por que o governo não propôs a limitação temporal para a vigência das liminares e cautelares concedidas pelos juízes, ao mesmo tempo estabelecendo prazos mais curtos para o julgamento final dessas ações? Por que o governo, tanto no texto da reforma da Previdência quanto no parecer do deputado Maurício Rands (PT-PE), dá uma interpretação autoritária, controvertida e desumana ao direito adquirido, ignorando uma tradição que se implantou no país desde os primórdios da República? Por que o governo não respeitou o direito adquirido dos que se aposentaram e que, agora na velhice, doentes, têm a perspectiva de redução dos seus proventos? Há uma questão até hilariante no parecer do deputado Maurício Rands. Ele propõe, em seu parecer, que a remuneração máxima, intransponível, no âmbito da União, seja a de ministro do Supremo Tribunal Federal. Mesmo na circunstância de uma cumulatividade constitucional. Então, como é que fica a situação do ministro do Supremo que tem uma aposentadoria, constitucional, ética e legal, como professor universitário? Será cassada essa aposentadoria? Mesmo que o ministro tenha, por 30 anos, contribuído para desfrutar dela? Com a minha experiência de vida, lutas, sonhos e desencantos, faço, aqui, o meu repto: apoio não é escravidão, submissão. Apoiemos as reformas. Mas não abdiquemos do direito de emendá-las no que seja necessário para o bem do país e a paz da sociedade brasileira. Que se faça justiça e não se crie, mais uma vez, um clima de ressentimentos e ódios que nada constrói. Que se pense, inclusive para repor a verdade, numa fase de transição entre servidores com mais de 50% de tempo para se aposentarem e aqueles que, por terem menos tempo no serviço público, possam ainda buscar a alternativa de uma previdência privada complementar. Aluízio Alves, 81, advogado, foi redator da "Tribuna da Imprensa", governador do Estado do Rio Grande do Norte, pelo MDB (1961-1966), e ministro da Administração (governo José Sarney) e da Integração Regional (governo Itamar Franco). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Ruy Altenfelder: A primeira pedra Índice |
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