São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A primeira pedra
RUY ALTENFELDER
Por outro lado, o Brasil não é um planeta nem tampouco uma ilha. É um país inserido num contexto mundial. E, nesse universo, globalizado a partir dos anos 90, só têm aumentado a concentração regional das riquezas, a miséria do Terceiro Mundo e a pobreza dos países emergentes, como demonstra, aliás, relatório do próprio Banco Mundial. Assim, a lição de casa para a redução dos contrastes, da estratificação social indevidamente taxada como preconceito e para a melhoria das condições de vida e inclusão não está restrita ao mea culpa de cada país. Trata-se de uma questão também global. As barreiras protecionistas -tarifárias e, é importante frisar, não -tarifárias-, os subsídios à produção industrial e agrícola e o dumping social disfarçado sob a indignidade de salários aviltantes, práticas ainda muito presentes nos países industrializados e em grande nações asiáticas, também estão diretamente ligados à pobreza e à exclusão nos emergentes e subdesenvolvidos. Da mesma forma, o desprezo de nações ricas por tratados como o Protocolo de Kyoto e compromissos como o da erradicação da miséria e preservação das florestas alinha-se dentre os obstáculos atuais ao desenvolvimento sustentado. Aparentemente, todos os benefícios e a melhoria da qualidade de vida atrelados ao ideário da globalização e da sociedade pós-industrial transformam-se em privilégios regionais, e não em direitos universais. Assustador é constatar a crescente impotência dos organismos internacionais, como a própria ONU e a OMC (Organização Mundial do Comércio), na mediação entre os povos, na busca da paz e na justiça do comércio exterior. Nós, Brasil, devemos, sim, solucionar nossos problemas internos e jamais poderemos nos omitir nesse compromisso com a nossa própria história. Porém, num mundo em que as Nações Unidas foram incapazes de impedir que a deposição de um ditador e todas as metas colaterais se cumprissem à custa do assassinato de crianças inocentes, ninguém está moralmente habilitado a atirar a primeira pedra! Ruy Martins Altenfelder Silva, 64, advogado, é presidente do Instituto Roberto Simonsen. Foi secretário da Ciência, Tecnologia, Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (governo Geraldo Alckmin). Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Aluízio Alves: Escamoteação da verdade Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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