São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Amendoim torradinho

SÃO PAULO - Para que serve uma via expressa? Para que os veículos andem a velocidades superiores às de ruas normais, certo? Errado, se a cidade for São Paulo e se a via expressa for a avenida 23 de Maio, a principal ligação centro-sul.
A 23 de Maio serve para vender amendoim torradinho. Já seria absurdo vender amendoim torradinho nas calçadas ou no canteiro central de uma via expressa, porque, em tese, os carros passam "expressamente" e, portanto, não daria tempo para parar e comprar alguma coisa.
Mas, na 23 de Maio, dois jovens vendem o amendoim não na calçada, mas no meio do que antigamente chamávamos de "leito carroçável", ou seja, no meio da pista supostamente expressa.
Pelo menos entre 18h e 20h, perto do viaduto que dá na avenida Paulista, os dois estão lá, munidos de seus fogareiros portáteis e com seus saquinhos de amendoim torradinho.
Pedestres numa via expressa são uma anomalia, certo? Então como é que você qualificaria pedestres numa via expressa e ainda por cima vendendo amendoim torradinho? Nem pensou nisso, não é? Claro, paulistano engole tudo, acostuma-se com toda e qualquer anomalia.
Amanhã ou depois, tenho certeza, haverá um carrinho de cachorro-quente no meio da avenida. Afinal, São Paulo não se gaba de sua diversificada oferta gastronômica? Só amendoim é pouco.
Depois virá um "drive-thru" do McDonald's, justamente na pista mais à esquerda, supostamente a de mais alta velocidade. O difícil será realizar o "thru", porque, por mais que a gente "drive", não anda.
Mais adiante, surgirá uma pizzaria "delivery" (o cidadão encomenda por celular e retira dois quilômetros e muitíssimos minutos depois, quentinha, "ôrra, meu", sem sair do carro e, claro, sem sair da 23 de Maio).
Também não faltará um café com internet, pelo menos pra gente saber quantos quilômetros de congestionamento ainda restam. Ou, quem sabe, um telão passando filme de caubói tangendo o gado manso.


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