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A década de Blair
DEPOIS DE uma década no
poder no Reino Unido,
Tony Blair troca o número 10 de Downing Street pelo
Oriente Médio. Não se pode afirmar que seja uma promoção.
Blair saiu do cargo sob forte impopularidade, no que não deixa
de ser uma das ironias de que a
história está repleta.
As críticas mais veementes à
administração ocorrem -e muito justamente, diga-se- por conta do envolvimento britânico na
guerra do Iraque. Contra a opinião da grande maioria da população e de setores do próprio Partido Trabalhista, Blair insistiu
em seguir ao lado de George W.
Bush na aventura iraquiana.
Agora colhe os resultados.
Não fosse esse grave equívoco,
Blair poderia passar para a história como um estadista. Seu maior
feito foi o de encontrar uma solução democrática para o problema do terrorismo na Irlanda do
Norte, algo que Londres vinha
tentando fazer sem sucesso havia décadas, senão séculos.
Blair também conseguiu -secundado pelo então secretário
das Finanças e hoje premiê, Gordon Brown- fazer com que o
Reino Unido retomasse o crescimento econômico, superando os
países do continente.
Os britânicos estão perceptivelmente melhor após dez anos
sob um Partido Trabalhista renovado, que abraçou os princípios da economia de mercado
sem perder seu caráter social.
Blair revitalizou o Serviço Nacional de Saúde e promoveu importantes reformas no sistema educacional do país.
Como "recompensa", o quarteto (EUA, União Européia, Rússia
e ONU) decidiu transformar
Blair em seu enviado para negociar a paz no Oriente Médio. A
decisão é um reconhecimento
justo ao ex-premiê, mas um desastre político. Desde que se alinhou a Bush, a credibilidade de
Blair entre os árabes só não é
pior que a do presidente americano e a do premiê israelense.
Não é a pessoa mais indicada para promover o diálogo.
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