São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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Editoriais

150 anos de evolução

HÁ EXATOS 150 anos, numa saleta da Sociedade Lineana de Londres, um grupo de naturalistas anunciava ao público ali presente os contornos de uma teoria que alteraria para sempre o modo de compreender a origem e a variedade da vida em nosso planeta. Era a teoria da evolução por seleção natural, concebida de forma independente por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace.
O real alcance dessa idéia -uma das mais importantes do pensamento ocidental-, passou quase despercebido na ocasião. Os próprios naturalistas presentes no evento não pareciam mais interessados nos trabalhos de Wallace e Darwin do que nos outros itens da pauta da reunião, que incluía a leitura de uma carta "sobre a vegetação em Angola" e a descrição de um novo gênero da família das abobrinhas.
Os teólogos, porém, não demoraram muito a dar-se conta do tamanho da revolução darwiniana. Pequenas variações entre indivíduos surgidas ao acaso e selecionadas pelo ambiente -os mais aptos tendem a ter mais descendentes, com características parecidas- podem, ao longo de eras, produzir novas espécies. Todos os seres vivos do planeta, da rainha da Inglaterra ao mais humilde organismo unicelular, possuem um ancestral comum. Deus já não é necessário para explicar a exuberância das formas de vida. A biologia pôde enfim tornar-se uma ciência, que prescinde de causas sobrenaturais.
A idéia é tão perturbadora que mesmo hoje ainda não é bem aceita. É provavelmente a tese científica mais atacada de todos os tempos. Seus detratores tentam desqualificá-la descrevendo-a como "apenas uma teoria", que estaria no mesmo plano epistemológico de "concorrentes" como o design inteligente e o relato bíblico do Gênesis.
É claro que tudo em ciência é "apenas" uma teoria -aí incluída a gravitação universal. A evolução, mais ou menos como Darwin e Wallace a postularam, segue firme e produtiva. É capaz de explicar fenômenos como a resistência de bactérias a antibióticos e tem gerado novos e promissores campos de investigação, como a farmacogenética.
É uma lástima que, 150 anos após sua primeira exposição, a teoria e os fatos da evolução ainda sejam tão incompreendidos.


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