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Vice inesperado
De maneira surpreendente, chapa de Serra define-se após o não de Aécio Neves e uma sequência de atritos entre quadros do PSDB e do DEM
A distância que separa o ex-governador mineiro Aécio Neves do
deputado fluminense Índio da
Costa é a mesma que existe entre a
fantasia e a realidade. O PSDB alimentou por vários meses a ilusão
de que pudesse formar a chamada
"chapa dos sonhos". Acabou atropelado pelos fatos.
A indicação do jovem quadro
político dos democratas para vice
de José Serra encerrou, da maneira possível, uma sequência de
problemas da campanha tucana.
Um dos pivôs do imbróglio, o
DEM rebelou-se contra a indicação do senador Álvaro Dias
(PSDB-PR), ocorrida na sexta-feira
passada. Ao saber do nome pelo
Twitter do ex-deputado petebista
Roberto Jefferson, os demistas deflagraram uma reação pública irônica e agressiva, na qual ridicularizaram a escolha e ameaçaram
abandonar a aliança.
Para piorar o quadro, o senador
Osmar Dias (PDT), irmão de Álvaro, anunciou na noite de anteontem, depois de muito negociar, a
intenção de concorrer ao governo
do Paraná, oferecendo um palanque à candidatura presidencial de
Dilma Rousseff no Estado.
A possibilidade de Osmar
apoiar o PSDB era o principal motivo alegado para o convite ao senador. Sem isso, não havia mais
como justificar a permanência de
Álvaro Dias. Depois de algumas
horas de suspense, o anúncio de
Índio da Costa colheu todos -inclusive ele próprio- de surpresa.
A opção pelo político fluminense
selou uma aliança eleitoral que se
viu de fato ameaçada.
Aliados de Serra acreditam que
um vice jovem e do Rio de Janeiro,
Estado onde o tucano perdeu espaço e tem dificuldades históricas
de se afirmar, possa propiciar alguns ganhos para a candidatura.
Além disso, Índio foi o relator na
Câmara do projeto Ficha Limpa,
que traduz o anseio popular por
representantes mais comprometidos com a honestidade. É uma
vantagem em se tratando de um
partido que há pouco foi colhido
pelo escândalo de corrupção do
governo do Distrito Federal.
Faltam pouco mais de três meses para o primeiro turno da eleição. Há muito por acontecer na
campanha. A novela do vice de
Serra sem dúvida evidenciou dificuldades e percalços -mas são situações que ficarão para trás.
Parte dos problemas ocorridos
pode ser atribuída à autossuficiência do candidato tucano, pouco disposto a fazer concessões para compor seu arco de alianças -o
que não deixa de ter aspectos positivos diante do vale-tudo que o
lulismo consagrou.
Outra parte nada tem a ver com
as vontades ou a personalidade do
ex-governador de São Paulo. A
força popular do presidente Lula,
o peso da máquina e o poder de
atração da candidatura governista
sobre os partidos estreitaram a
margem de manobra da oposição.
Com os vices definidos, espera-se que a disputa pela Presidência
ingresse em breve numa etapa
mais propositiva. É preciso explicitar diferenças e apontar caminhos. O país quer saber o que os
candidatos pensam sobre temas
como a condução da economia, o
papel do Estado, os gargalos na
infraestrutura e os desafios ainda
imensos em relação à saúde, à
educação e à segurança pública.
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