São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2000


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ELIANE CANTANHÊDE

Combate à corrupção

CARACAS - O peculiaríssimo Hugo Chávez ganhou as eleições de domingo na Venezuela com quase 60% dos votos. O índice é surpreendente. As circunstâncias, mais ainda.
1 - A economia está um desastre, o desemprego bate em 15% e em Caracas só se fala em crimes e em violência, como no Rio e em São Paulo;
2 - Igreja, intelectuais, empresários, classe média "esclarecida" e muito particularmente a imprensa são anti-Chávez até a alma. "Vamos tirar o louco", ouvia-se nos bairros ricos;
3 - Além de não dar bola, ele espicaça todos esses setores dando de ombros aos EUA e badalando Cuba.
Entonces, como consegue desafiar lógicas políticas, sociológicas e latino-americanas, acumulando vitórias sucessivas e tão expressivas?
Uma resposta pode estar no seu discurso e no seu esforço de combate à corrupção escandalosa e histórica da Venezuela. Colou.
Ouvi dezenas de eleitores (sem exagero) no domingo. Há menos de dois anos, na primeira eleição de Chávez, a corrupção era o tema número um. Agora, ninguém tocou nisso, só em desemprego e violência.
Comparação rápida: o grande trunfo de FHC foi o combate à inflação, que se esgotou; o de Chávez é o combate à corrupção, que ainda lhe rende frutos eleitorais.
Se estudar as eleições venezuelanas, FHC vai ver que aqui, como aí, o "povão" não suporta mais ser roubado, espoliado, surrupiado por um punhado de corruptos. Seu governo passa a idéia de perder feio essa guerra.
Vai ver, também, que não é ficando refém das elites (políticas, empresariais, internacionais) que se mantêm popularidade e força política.
Chávez é cheio de defeitos, a começar da origem golpista, mas tem o discurso certo, no momento certo, no continente certo. Assim, se torna um modelo a ser observado. Em meio a tantos desastres (Peru, Equador, Paraguai...), é o que surgiu de novo. Gostem ou não as elites.
Seu pior inimigo é o tempo. Quanto mais passa, maior o desgaste. Mas isso FHC sabe melhor que ninguém.


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