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CARLOS HEITOR CONY
CPI ou CTI
RIO DE JANEIRO - Quando estourou o último escândalo no governo, escrevi uma crônica dizendo que não
acreditava em maiores consequências do ponto de vista institucional.
Com ou sem CPI, o establishment
não está interessado em investigar o
descalabro que o presidente admitiu.
O governo mal consegue administrar a sucessão de escândalos. Noventa por cento de seu tempo e de seus recursos são destinados a apagar incêndios, cada vez mais graves e cada
vez mais próximos do eixo presidencial.
Bem ou mal, todo mundo fazendo
força para evitar o pior, e com a complacência oportunista do presidente,
a coisa irá indo até o fim do segundo
mandato -tempo para sempre perdido, pois o país está sendo governado vegetativamente, como um doente
terminal, sedado numa CTI.
Não teremos a CPI. A própria oposição duvida de sua possibilidade. A
situação, que devia ser a mais interessada em apurar os escândalos,
juntou todos os seus cacos e armou
um cinturão de segurança em torno
do Planalto. ""Não passarão!" -foi o
lema que ficou famoso durante a
Guerra Civil Espanhola.
Teremos, até 2002, a administração
(boa ou má) de uma crise permanente, que nem está relacionada com a
economia. Uma crise moral, a mais
demorada de nossa história. Os rombos que se sucedem são cada vez
maiores e mais ligados ao núcleo do
poder.
Falência múltipla de órgãos -é o
jargão da clínica médica aplicável
aos dois anos que restam para o governo. O sistema poderá evitar a CPI,
mas teve de internar o doente em crise na CTI, sedá-lo e monitorá-lo para
evitar o desenlace.
O presidente se reduziu a um legume, refém de um equipamento político-tecnológico que o manterá no poder quase simbolicamente, para que
alguns saiam ganhando, ninguém
seja punido e o país saia perdendo.
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