São Paulo, terça-feira, 01 de agosto de 2000


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CARLOS HEITOR CONY

CPI ou CTI

RIO DE JANEIRO - Quando estourou o último escândalo no governo, escrevi uma crônica dizendo que não acreditava em maiores consequências do ponto de vista institucional. Com ou sem CPI, o establishment não está interessado em investigar o descalabro que o presidente admitiu.
O governo mal consegue administrar a sucessão de escândalos. Noventa por cento de seu tempo e de seus recursos são destinados a apagar incêndios, cada vez mais graves e cada vez mais próximos do eixo presidencial.
Bem ou mal, todo mundo fazendo força para evitar o pior, e com a complacência oportunista do presidente, a coisa irá indo até o fim do segundo mandato -tempo para sempre perdido, pois o país está sendo governado vegetativamente, como um doente terminal, sedado numa CTI.
Não teremos a CPI. A própria oposição duvida de sua possibilidade. A situação, que devia ser a mais interessada em apurar os escândalos, juntou todos os seus cacos e armou um cinturão de segurança em torno do Planalto. ""Não passarão!" -foi o lema que ficou famoso durante a Guerra Civil Espanhola.
Teremos, até 2002, a administração (boa ou má) de uma crise permanente, que nem está relacionada com a economia. Uma crise moral, a mais demorada de nossa história. Os rombos que se sucedem são cada vez maiores e mais ligados ao núcleo do poder.
Falência múltipla de órgãos -é o jargão da clínica médica aplicável aos dois anos que restam para o governo. O sistema poderá evitar a CPI, mas teve de internar o doente em crise na CTI, sedá-lo e monitorá-lo para evitar o desenlace.
O presidente se reduziu a um legume, refém de um equipamento político-tecnológico que o manterá no poder quase simbolicamente, para que alguns saiam ganhando, ninguém seja punido e o país saia perdendo.


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