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ANTONIO DELFIM NETTO
FMI de novo. Não por culpa do mundo
Fez muito bem o senhor presidente da República autorizando a
equipe econômica a negociar um novo acordo com o FMI. Ele poderá propiciar uma "blindagem" para as esperadas turbulências dos próximos 16
meses. Todos sabemos o que o Fundo
exigirá: um pouco mais do mesmo
que exigiu até agora (e que cumprimos). Na sua essência, trata-se de gerar um superávit primário que acomode o pagamento aos credores e, ao
mesmo tempo, lhes dê relativa tranquilidade sobre nossa capacidade de
continuar a honrar os compromissos
internos e externos.
Na inauguração de uma nova turbina na usina de Ilha Solteira, o senhor
presidente aquietou a nação afirmando que ele (que aumentou a carga tributária bruta de 27% para 33% do PIB
e propôs a prorrogação da CPMF com
a alíquota de 0,38% sem isentar as
operações do mercado de capitais)
não pedirá jamais um novo aumento
de impostos. O que se vai fazer, portanto, é cortar um pouco mais as despesas para atingir um superávit primário de 3,5% do PIB em 2001. Isso,
infelizmente, precisa mesmo ser feito.
Com o registro no cartório do FMI e o
seu aval, entretanto, a medida adquire
visibilidade internacional e terá mais
credibilidade.
Não adianta tentar sugerir que "somos vítimas da crise internacional".
Somos, como a Argentina, vítimas da
nossa própria miopia política: destruímos nosso setor exportador, concentramo-nos no Mercosul -mais diversão de comércio do que aumento- e
confiamos na miragem de que o câmbio fixo aumentaria a produtividade
da economia. Abusamos das facilidades para financiar o déficit em conta
corrente. Com o apoio do FMI, arranjamos em 1998 uma blindagem de
US$ 40 bilhões (para pagar aos credores) e insistimos no câmbio fixo, mas a
pressão do mercado livrou o Brasil do
pior em janeiro de 1999.
As duas proposições -que o mercado não distingue o Brasil da Argentina e que nossa volatilidade não é resultado da "crise internacional"-têm
uma prova impressionística no gráfico abaixo:
Vemos que o início da atual volatilidade se deu na segunda quinzena de
fevereiro, quando o "spread" brasileiro ficou menor do que o argentino,
mas continuou mantendo alta correlação positiva com ele. As "testemunhas" são México, Chile e Coréia, que
flutuaram, mas mantiveram uma correlação negativa com os "spreads"
Brasil-Argentina. Quando o "spread"
Brasil-Argentina sobe (devido à oferta
apressada de seus papéis), os
"spreads" México-Chile-Coréia tendem a cair (aumenta a demanda de
seus papéis), refletindo a mudança do
portfólio dos investidores internacionais. Os "spreads" do México, do Chile e da Coréia mantêm forte correlação positiva. Eles, sim, parecem resultado das flutuações do mercado financeiro mundial, pelo menos ao longo
de 2001.
Não há dúvida de que pedir a continuidade da auditoria do FMI é uma
medida elementar de precaução, e receber uma nova "blindagem" poderá
ser uma medida transcendente de salvação...
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
e-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br
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