São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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O NÓ EXTERNO

A desvalorização do peso e a moratória da dívida pública argentina no início de 2002 lançaram os países latino-americanos à terceira crise de contas externas em menos de uma década. A primeira crise foi desencadeada pela desvalorização do peso mexicano. A segunda começou com as turbulências na Ásia, agravou-se com a moratória da Rússia e culminou com a desvalorização do real em janeiro de 1999.
A suspensão do financiamento externo voluntário foi determinante para detonar essas crises. Nas duas primeiras, a economia dos EUA atravessava um longo ciclo de crescimento, o que facilitou a transição, seja pela expansão do comércio, seja pela articulação de programas de refinanciamento para os países endividados (em torno de US$ 250 bilhões).
Agora os países latino-americanos enfrentam uma brutal restrição financeira externa associada a uma desaceleração da economia mundial. Depois de crescer 5% no primeiro trimestre de 2002, a taxa de crescimento da economia americana caiu para 1,1%. O Departamento de Comércio revisou ainda os dados de 2001, explicitando três trimestres negativos. Isso faz com que a crise atual assuma um caráter global e sistêmico, com impactos na produção, no comércio internacional e no sistema financeiro mundial. Essa dinâmica global da crise restringe os raios de manobra das políticas nacionais, sobretudo dos países periféricos.
Um dos sinais da crise é a acentuada desvalorização do real. A cotação do dólar atingiu ontem R$ 3,61. Após intervenção do Banco Central, recuou e fechou em R$ 3,47. No ano, a depreciação da moeda brasileira já atinge 50%. Nesse cenário, é crucial que as autoridades brasileiras consigam obter novas fontes de recursos em moeda forte. Não basta queimar as reservas. Há que estabelecer rapidamente um acordo com o Fundo Monetário Internacional e com os grandes bancos internacionais. As linhas de crédito interbancárias em dólar, que foram cortadas, precisam ser restauradas. Elas são vitais para as empresas gerarem riqueza e, portanto, os dólares necessários para honrar os compromissos externos.


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