|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
Currais do crime
Com omissão das cúpulas partidárias, domínio de traficantes e milícias ameaça direito do eleitor no pleito de 2008
CURRAIS eleitorais, como
o próprio termo sugere,
compunham uma realidade típica dos tempos
em que o poder político não passava de uma extensão, mais ou
menos automática, do predomínio das oligarquias rurais sobre a
vida brasileira.
A denominação sobreviveu, no
plano da metáfora. Ressurge
contudo, de modo literal e alarmante, no noticiário de 2008.
Cabe perguntar se será apenas
nas favelas do Rio de Janeiro, onde o fenômeno se manifesta com
nitidez, que milícias e traficantes
impõem sobre a população a exigência de votar nos candidatos
com que estão mancomunados.
No Complexo do Alemão, situado na zona norte da capital
fluminense, um candidato a vereador pelo DEM aparece como
apadrinhado dos traficantes.
Proíbe-se qualquer outro de pisar naquele território. Entidades
de moradores contestam a informação; espalharam faixas de
boas-vindas a todos os que disputam o pleito, e houve quem bizarramente atribuísse a notícia à
"perseguição" e ao "preconceito"
contra favelados.
Em outra comunidade carioca,
entretanto, indivíduos armados
impediram que jornalistas circulassem livremente, enquanto
acompanhavam a passagem de
um candidato à prefeitura pelo
local. Fotógrafos foram obrigados a apagar as imagens que traziam gravadas em suas câmeras.
É necessário, declarou o próprio candidato, senador Marcelo
Crivella (PRB), "pedir autorização" para entrar em certos lugares. Tanto Crivella como a candidata do PC do B, Jandira Feghali,
já se viram vigiados de perto por
asseclas do tráfico em suas campanhas eleitorais.
O secretário da Segurança Pública do Estado, José Mariano
Beltrame, calcula em dez mil homens o contingente necessário
para assegurar o policiamento
nos currais dominados por milícias e traficantes da cidade do
Rio de Janeiro. Sua presença não
teria por que restringir-se, de
resto, ao período eleitoral: tanto
quanto a liberdade dos candidatos, é a dos moradores que se vê
cronicamente ameaçada.
Cumpre indagar qual o papel
dos próprios partidos políticos,
que admitem sem o menor problema candidatos com extensa
ficha criminal e histórico notório
de colaboração com o crime organizado. Não se espere que as
microscópicas legendas de aluguel tomem providências contra
essa infiltração.
Mas partidos de dimensão nacional, que na cúpula não deixam
de procurar certa respeitabilidade, deixam-se igualmente vascularizar com a presença de candidatos que não passam de prepostos de um poder fora de controle,
alheio e hostil ao próprio Estado.
Suas direções se omitem; a
campanha prossegue. "Será a
eleição mais bonita da história
do Rio de Janeiro", assegura o
presidente do Tribunal Regional
Eleitoral do Estado. Em matéria
de promessas, nenhum candidato faria melhor.
Próximo Texto: Editoriais: Pouco público
Índice
|