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Editoriais
Pouco público
INFELIZMENTE , a notícia de que
Gilberto Gil deixa o Ministério da Cultura parece dizer
mais respeito ao chamado "jornalismo de celebridades" do que
aos assuntos de Estado. Grande
parte desse efeito se deve, como
não poderia deixar de ser, ao seu
renome como artista e ao magnetismo de sua personalidade.
Ocorre que um dos principais
méritos de Gilberto Gil foi justamente o de emprestar sua própria visibilidade midiática a um
ministério cronicamente sem
verbas e sem presença nas prioridades do governo.
A perene carência orçamentária não é a única justificativa para a inação do Ministério da Cultura. Em questões de grande importância, como a da Lei Rouanet e a dos direitos autorais, Gilberto Gil procurou movimentar
o debate, sem poder traduzi-lo
em propostas concretas de
transformação.
São notórias, a esta altura, as
distorções criadas pela atual legislação de incentivo à cultura.
Apoiaram-se, com os recursos do
contribuinte, projetos que teriam condições de se sustentar
sem subsídios. A população carente de ofertas culturais e as
instituições formadoras de talentos ficaram de lado.
É que as necessárias correções
na Lei Rouanet -instrumento
que tem a grande virtude de conter o aparelhamento político da
cultura- esbarram tanto numa
falta de real interesse político do
governo para implementá-las,
quanto no excesso de interesses,
muito reais, dos setores que se
beneficiam do sistema em vigor.
Refletem-se com isto, na verdade, as clássicas dificuldades
em encarar o acesso à cultura,
sua preservação e fomento, como uma questão de natureza pública, que transcende tanto as
pressões corporativas quanto as
tentações do dirigismo estatal.
Gilberto Gil pôde dar "publicidade" à pasta da Cultura. Não foi
o suficiente, todavia, para colocá-la de fato como parte atuante
do serviço público brasileiro.
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