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JOSÉ SARNEY
A hora e a vez das listas
HOUVE UM tempo em que a
legislação eleitoral não permitia a presença de soldados nas proximidades das seções
eleitorais. Procurava-se proteger
os eleitores contra a coação do poder público. Agora, a discussão é
como colocar a polícia dentro das
seções eleitorais e como proteger
os candidatos para que possam ter
o direito de ir e vir. Nenhuma confissão maior do que esta, da falência e da impotência do poder público, acuado pelo crime organizado,
gerando um clima de medo e insegurança na sociedade.
Esta, aliás, está se mostrando
uma eleição atípica. O presidente
do TRE do Rio diz que não quer
tropas do Exército e o secretário de
Segurança do Estado confessa não
dispor de força suficiente para
"ampliar o policiamento ostensivo
nos locais apontados pela Justiça
Eleitoral como currais eleitorais".
Já a Associação dos Magistrados
diz que deseja ajudar a pureza das
eleições e organiza a lista dos candidatos sujos. É o Bloco dos Sujos,
famoso nos Carnavais de outrora.
E a lista é aberta -a qualquer momento alguém pode entrar. O prefeito de São Paulo é um dos retardatários que não escapou da santa
inquisição. Mas as listas não são somente da AMB. Os Tribunais de
Contas também têm lista própria
-o TCU e os estaduais, estes com
direito a um anexo chamado
"adendo das omissões". O Ministério Público em todos os municípios
também tem seu julgamento próprio e entra com impugnações, para não permitir que participem do
pleito pessoas com antecedentes
criminais ou de má reputação. Isto
sem falar na guerra entre candidatos e partidos, impugnando em fogo cruzado uns aos outros. O diabo
é que, como dizia Machado, a confusão é geral. Só que com tantos recursos, prazos e denúncias, dificilmente os juízes vão ter tempo de
julgar tantas questões em prazo tão
estreito.
Mas como nada é novo debaixo
do sol, Afonso Arinos já contava
que, quando era acadêmico em Belo Horizonte, com a homofobia daquele tempo, prenderam um homossexual tendo em seu poder
uma lista dos "rapazes da sociedade de BH" que participavam do seu
time. E a brincadeira era chamar
um colega e alarmá-lo: "Você está
lista". Agora os candidatos estão
num dilema parecido.
A única esperança que surge vem
dos moradores do Complexo do
Alemão, no Rio de Janeiro. São otimistas e colocaram lá uma faixa-lema: "Aqui se faz política com democracia e liberdade".
Ao que parece, é o único lugar em
que isso está ocorrendo. No resto
do Brasil, pelo que diz a mídia, não
se acredita nem numa coisa nem
na outra. E a lista dos limpos, por
dificuldade de impressão, ainda
não saiu.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna
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