São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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DEMOCRACIA AO SUL

Para muitos , as relações internacionais são o terreno da guerra de todos contra todos. Levada ao extremo essa idéia, a Reunião de Presidentes da América do Sul, que acontece em Brasília, seria um contra-senso. Na prática, porém, o que se verifica é que nações podem se unir, ainda que apenas circunstancialmente, em torno de interesses comuns. A dificuldade, no caso da América do Sul, sempre foi determinar esse interesse comum.
A reunião de cúpula patrocinada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso se torna mais do que uma mera oportunidade para presidentes posarem para fotógrafos quando se considera a questão da Alca, a proposta da criação de uma zona de livre comércio para as Américas.
Se cada país negociar individualmente com os EUA, país que realmente interessa a todos, a tendência é que Washington dite soberanamente as regras que mais lhe convenham. Atuando em bloco, nações da América do Sul poderiam obter maiores concessões dos EUA. Assim, a cúpula de Brasília já reúne um dos ingredientes essenciais para que a consolidação de um espaço sul-americano prospere.
É claro que não será fácil. Divisões históricas, interesses antagônicos, disputas por liderança, preponderância econômica dos EUA, muitos são os obstáculos a uma América do Sul integrada e forte.
Há ainda problemas localizados, como a força desestabilizadora do narcotráfico na região e a precariedade democrática de algumas nações. Esboços de iniciativas para contorná-los estão na agenda dos presidentes, mas é evidente que esses temas, mais afastados do interesse comum, podem revelar-se os mais difíceis.
O fato é que, mesmo com as dificuldades que o Mercosul e outros blocos análogos atravessam, a alternativa de se unir para negociar, inclusive a Alca, em posição menos fraca com os Estados Unidos é a mais lógica. Para isso, é necessário que o que se inicia na reunião de Brasília tenha continuidade, com vistas até à formação de um bloco regional.


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