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ANTONIO DELFIM NETTO
Olho neles...
Na ata da 99ª reunião do Copom,
que registra o encontro do Conselho de Política Monetária realizado
nos dias 17 e 18 de agosto, os já famosos "falcões-cientistas" do Banco Central se superaram! Afirmando que sua
missão sagrada é cumprir a meta inflacionária estabelecida pelo Conselho
Monetário Nacional, ameaçam claramente a sociedade com um possível
aumento da taxa básica Selic se ocorrerem:
1. ou uma alta -não só mais intensa, mas também mais persistente-
do petróleo, que produziria, "na ausência de um reposicionamento da
política monetária", efeitos inflacionários de segunda ordem, incompatíveis com o compromisso inerente ao
sistema de metas de inflação, e/ou 2.
se, por conta das próprias perspectivas do preço do petróleo, a expectativa
para a taxa de inflação de 2005 (influenciada pelas ameaças do próprio
Banco Central) mover-se do ponto em
que está estacionária há algum tempo
(5,5%).
Assustados com as conseqüências
de um possível aumento da taxa Selic,
tentam anestesiar a sociedade afirmando que, mesmo que o "cenário inflacionário venha a requerer um ajuste
da taxa de juro básica, é importante
reiterar que isso não acarretará prejuízos ao processo de crescimento sustentado da economia brasileira". Segue-se o rocambole já conhecido de
todas as atas sobre as virtudes da política monetária... O mais grave é que o
Banco Central pensa que teve qualquer coisa a ver com a recente expansão da economia, quando a sua irrelevância para o processo salta aos olhos
depois de ter perdido várias oportunidades para baixar os juros.
O problema do petróleo é puro "terrorismo": seu aumento terá pequena
influência sobre a taxa de inflação.
Mas é para isso que existem as "salvaguardas" do sistema de metas: violadas por um choque de oferta, o Banco
Central deve explicar-se por escrito ao
ministro da Fazenda, e ele (que fixou a
meta!) pode aceitar ou não as desculpas. Nos EUA, o FED está ajustando a
taxa de juro real americana (hoje negativa!) para atingir o nível que sustentará a economia funcionando a
plena carga sem tensões inflacionárias, isto é, ele não objetiva cortar a demanda. No Brasil, ao contrário, o Banco Central quer elevar a taxa de juro
real (de 10% ao ano, a maior do universo inteligente) e afirma "que não
vai cortar a demanda"! O mais grave, e
o que ele não revela, é que isso cortará
também o investimento, reduzindo o
crescimento do produto potencial,
conservando a economia brasileira na
mesma armadilha...
Até as esquinas que fazem falta a
Brasília sabem que as metas foram estabelecidas em níveis muito ambiciosos quando se considera o resíduo de
indexação ainda embutido no IPCA.
Para 2004, por exemplo, os preços administrados representam cerca de
29% do IPCA. Como é óbvio, eles não
respondem a nenhuma restrição de
demanda produzida pela variação da
taxa de juros real. Estima-se que eles
possam subir (com qualquer taxa de
juro real) 8,3%, o que significa que somarão ao IPCA 2,4%.
Não é possível aceitar que, para "salvar sua credibilidade", o Banco Central (que nunca atingiu rigorosamente
a meta, o que aliás não tem importância) repita o seu papel de inibidor do
"espírito de desenvolvimento", como
já fez em dezembro, o que teve muita
importância. O maior agente da deterioração das "expectativas inflacionárias" é exatamente a sucessão de atas
"terroristas" do Copom. Que tal mantê-las secretas?
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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