|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Palmas e botas
RIO DE JANEIRO - É evidente que ficará como uma das fotos do ano. E
desde já entrará para a antologia das
Olimpíadas de todos os tempos. O
maratonista brasileiro que liderava a
corrida, no último domingo, em Atenas, com a vitória praticamente garantida, foi agarrado por um irlandês, vestido a caráter, fazendo o atleta perder minutos e ritmo, perdendo
também a medalha de ouro que estava a seu alcance.
Ignoro os regulamentos dos Jogos,
sobretudo o da maratona, mas alguma coisa deveria ser feita para impedir incidentes desse tipo, ao menos
para reparar o prejuízo sofrido pelo
atleta. Aliás, sempre achei complicada a legislação esportiva, não apenas
nas Olimpíadas, mas em várias modalidades dos esportes. No futebol,
por exemplo, se não houvesse bola
em campo, tudo seria perfeito, não
haveria violência, entrariam todos
em campo, 22 jogadores, um juiz,
dois bandeirinhas, fariam todos os
movimentos, os mais emocionantes,
mas sem a bola.
Pode parecer brincadeira, mas houve uma Olimpíada, acho que a de Estocolmo, cuja maratona só terminou
28 anos depois. Deu-se que um corredor, na metade da carreira, passou
pelo hotel onde estava hospedado e
desconfiou que não tinha possibilidade de ganhar nenhuma classificação
honrosa.
Decidiu pedir o boné, ou melhor,
sair da corrida. Ninguém notou. Foi
para o hotel, tomou banho, fez a mala, pagou a conta e se mandou para a
Finlândia, acho que Finlândia.
Acontece que, pelo regulamento,
naquele tempo, e talvez até hoje, a
maratona só pode ser homologada
quando todos os inscritos chegam ao
final ou comunicam a desistência.
Procuraram o finlandês durante 28
anos. Mandaram-lhe a passagem,
obrigaram-no a cruzar a chegada,
em ultíssimo lugar. Trôpego, ele deu
o passo fatal. Bateram palmas para
ele e só não bateram palmas para o
vencedor de 28 anos atrás porque ele
já havia batido as botas.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Realidade e marketing Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: Olho neles... Índice
|