|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Algo de podre
RIO DE JANEIRO - Os colunistas
sociais e as revistas de moda e de celebridades fariam bem em dar plantão às portas de Bangu 8, o presídio
de segurança máxima na zona oeste
do Rio em que estão hospedados o
ex-banqueiro Salvatore Cacciola, o
ex-deputado e ex-delegado Álvaro
Lins e outros políticos e policiais
suspeitos de ligação com mutretas
e milícias.
Com tantos bacanas sob o mesmo
teto, os dias de visita -segundas e
sextas-feiras- são um desfile de
carros blindados e peruas "heavy
metal", estas valendo seu peso em
quilates. O sistema prisional brasileiro, mais afeito a abrigar pés-de-chinelo, não está habituado a receber pessoas da alta, mesmo que o
dinheiro tenha entrado há pouco
tempo em suas vidas e elas ainda
pensem que é chique comer lagosta.
A comida que os parentes têm levado para seus presos ilustres sai
dos restaurantes vips da Barra. Destina-se a compensar o boião -arroz, feijão, macarrão e músculo-
que a cana serve aos coitados durante a semana. Não há nada de ilegal nisso e, de fato, deve até fazer
mal mudar de dieta tão de repente.
Acontece que o serviço de inteligência de Bangu 8 detectou a presença de lagosta no menu do ex-banqueiro Cacciola fora dos dias
permitidos. Não apenas isso, como
suspeita que os outros presos cinco
estrelas também estejam pedindo
haddock e salmão todos os dias
àqueles restaurantes, excedendo os
R$ 100 semanais que têm direito de
gastar na prisão. Ora, R$ 100 era o
que eles davam de gorjeta ao manobrista quando entravam nos restaurantes pela porta da frente.
O problema é se, além de a prisão
não ter alterado seus hábitos alimentares, os inquilinos de Bangu 8
continuarem a gerir seus negócios e
empresas, de dentro para fora do
presídio. Nesse caso, há algo de decididamente podre dentro do crustáceo -e do presídio.
Texto Anterior: St. Paul, Minnesota - Fernando Rodrigues: Similaridades Próximo Texto: Marina Silva: Amadurecer pela raiz Índice
|