|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Clima transparente
Só têm a ganhar os esforços
mundiais de combate ao aquecimento global caso o IPCC (Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática, na sigla em inglês) acate as recomendações do
grupo independente de cientistas
que acaba de concluir revisão sobre as práticas do organismo.
O IPCC, ganhador do Prêmio
Nobel da Paz em 2007, se vê sob
tempestade de desconfiança desde o fim do ano passado, quando
vieram à tona e-mails revelando
que pesquisadores do painel, ligado à ONU, agiam para barrar estudos propostos pelos chamados céticos do clima -para os quais o
aquecimento global não é provocado por ação humana.
As suspeitas sobre a lisura das
conclusões do IPCC aumentaram
com a revelação de que a entidade
se baseara em informação extraída de uma reportagem, e não de
estudo científico, para afirmar em
relatório que as geleiras do Himalaia se dissolveriam até 2035.
Esses e outros erros levaram a
ONU a determinar a criação de um
grupo de 12 cientistas, escolhidos
pelo IAC (InterAcademy Council,
órgão que reúne academias de
ciência mundo afora), para avaliar o trabalho do órgão.
O grupo divulgou anteontem o
resultado da auditoria, recomendando práticas que, se adotadas,
oxigenarão o trabalho do IPCC,
conferindo bem-vinda transparência a seus estudos.
Entre as recomendações, destacam-se: a inclusão de membros de
fora da comunidade do clima no
comitê executivo do painel; a
abordagem explícita das controvérsias relacionadas às mudanças
climáticas; e o estabelecimento de
um mandato com tempo limitado
para o presidente do organismo (o
atual, Rajendra Pachuri, está no
cargo desde 2002).
Pachuri admitiu que "podemos
mudar o IPCC para melhor" -e se
comprometeu a fazê-lo. Disse, porém, que não pretende renunciar
ao cargo. Resta esperar que, caso
continue nas atuais funções, tome
as medidas necessárias para recobrar a credibilidade de um órgão
cujos estudos são fundamentais
para embasar as negociações para
a redução das emissões globais de
carbono, que terão nova rodada
no México no fim deste ano.
Texto Anterior: Editoriais: Lula e a imprensa Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: O outro neto Índice
|