São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Entre Papai Noel e Maricota, o povo
CIRO GOMES
Durante a campanha, expus minhas idéias e travei bons debates ideológicos com excelentes repórteres, editores, diretores de redação. Mas revelou-se vão o esforço de debater soluções para um país que está mergulhado numa crise cambial. Ela é apenas a febre sintomática de uma infecção generalizada que fere de morte o modelo econômico adotado dogmaticamente. Essa peste já expõe suas chagas sociais: menor taxa média de crescimento da economia brasileira em 50 anos, 11,7 milhões de desempregados, contração da massa salarial em mais de 20%, informalização de 58% do mercado de trabalho e colapso na infra-estrutura. O debate sobre essas mazelas não permeou a campanha, foi embaçado pelo conchavo assustador entre marqueteiros e demagogos. E isso terminou amplificado pela complacência da média da grande mídia. Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, que já foi parafraseado por Miguel Arraes em um discurso de 1961, hoje tenho as mesmas mãos limpas do início do processo eleitoral, mas agora sei que encerro nelas o sentimento do mundo. Brasil afora, descobri como são díspares os países existentes na vida real e no imaginário de seus meios de comunicação. Na última série de entrevistas concedidas pelos presidenciáveis no "Jornal Nacional", da TV Globo, fomos levados a responder a perguntas enviadas por eleitores. Como eram precisas, cristalinas e curiosas aquelas questões. Limitavam-se a querer saber nossas idéias. Levavam-nos a entrar de cabeça no bom debate, na boa guerra. Não nos perguntavam se éramos bons ou maus companheiros de nossas companheiras. Não fui instado a responder sobre a legitimidade da minha crença na escola pública -o povo não tem dúvidas sobre ela. O Brasil encerrado na caixinha de plástico azul que guardava essas perguntas era o Brasil real. Levado ao encontro dos homens que se imaginam capazes de presidi-lo, mesmo que pelo intermédio do mais poderoso veículo de massas, revelava-se uma nação singela povoada de curiosos que só querem ouvir propostas, boas idéias. É esse povo que me estimula a ser político. É essa nação que desejo liderar. Insisto em fazer isso sem me resignar ao reducionismo biográfico de Papais Noéis ou de Maricotas. Ciro Gomes, 44, advogado, é candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) à Presidência da República. Foi prefeito de Fortaleza (1988 a 1990), governador do Ceará (1991 a 1994) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: O dever das oposições Índice |
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