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TENDÊNCIAS/DEBATES
O dever das oposições
ROBERTO MANGABEIRA UNGER
A eleição de 6 de outubro oferece
oportunidade sem precedente para mudar o país, retomando o desenvolvimento com base na redistribuição da
renda e na democratização das oportunidades e construindo a independência
do Brasil. Não é possível alcançar esse
resultado com a eleição do candidato
oficial e a continuidade da trama de interesses que se agrupa em torno de sua
candidatura. Só é possível atingi-lo com
a vitória das oposições.
O dever das oposições diante do quadro que se estabeleceu no país é reunir-se tanto quanto possível, ainda que de
última hora, para assegurar ao candidato oposicionista liderante os poucos votos que lhe possam faltar para ganhar a
eleição em primeiro turno.
Se fosse o Brasil democracia consolidada, se os aparatos do Estado mais responsáveis pela lisura das eleições, a começar pela Justiça Eleitoral e pela Polícia Federal, tivessem guardado isenção,
se os magnatas da mídia não estivessem
envolvidos em negócios com os detentores do poder, se não houvesse proliferado nessa campanha a falta de escrúpulo com que se distorceram fatos e se
destruíram reputações, se os partidos
políticos gozassem da confiança popular e pudessem com autoridade apontar
ao eleitorado na eleição de segundo turno seus preferidos e se, por fim, existisse, entre o primeiro turno e o segundo,
tempo bastante para neutralizar as violências que se preparam para fazer
triunfar o continuísmo e para mexicanizar o Brasil a pretexto de não argentinizá-lo, não haveria por que temer a eleição de 27 de outubro.
Nenhuma dessas condições, entretanto, vigora. Não lutar hoje para evitar o
segundo turno seria irresponsabilidade
para com a República.
O movimento para reunir as oposições em torno do candidato do PT, além
de ajudar a garantir a decisão eleitoral,
antecipa o tipo de governo necessário à
execução da obra transformadora: um
governo das forças progressistas, com a
participação dos empresários, que dialogue com todas as vertentes da sociedade brasileira.
Os dois outros candidatos de oposição devem renunciar em favor do candidato do Partido dos Trabalhadores
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Há vinte anos, polemizo contra as
idéias e as práticas do PT. Há uma semana, reafirmei diretamente ao candidato do PT minha convicção de não ser
ele, entre os candidatos de oposição, o
melhor agente da alternativa. Minha
convicção é irrelevante. O veredicto do
país está claramente desenhado. Tratemos de fazê-lo executar. Os dois outros
candidatos de oposição devem renunciar em favor do candidato do PT. E os
partidos que os apóiam devem exigir
que renunciem.
Os compromissos pessoais são elemento indispensável de ordem moral
na política. Encontram, porém, limite
na subordinação de tais compromissos
à responsabilidade para com as tarefas e
para com o país. Transposto tal limite,
amesquinham os indivíduos e corrompem a vida pública.
A idéia da grandeza é o princípio central da política. A grandeza se manifesta
na conjugação da audácia com o sacrifício. Fazer política é se despojar.
A energia desmedida do Brasil é a promessa de seu engrandecimento. Promessa até agora descumprida pela experiência quotidiana da humilhação
que sofrem dezenas de milhões de brasileiros. Aproximamo-nos da hora em
que poderemos dar combate decisivo a
essa perversão de nossa humanidade.
Que esse período de engrandecimento
nacional seja prefigurado por atos de
grandeza de parte dos que atuam na vida pública.
Se faltarem tais atos, que o povo brasileiro -sereno, confiante, sem medo
nem rancor- faça, no dia 6 de outubro,
justiça a si mesmo.
Roberto Mangabeira Unger é professor titular
de direito na Universidade Harvard (EUA) e colunista da Folha.
www.law.harvard.edu/unger
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