São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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NELSON MOTTA

Bicho solto

RIO DE JANEIRO - O assassinato do bicheiro Maninho não deixa dúvidas: o outrora simpático e inocente jogo do bicho, uma instituição brasileira (e uma das com maior credibilidade), não é mais aquele.
Hoje, é uma sólida organização criminosa, que explora máquinas caça-níqueis e videopôquer para tomar dinheiro dos pobres, que forma quadrilhas, lava dinheiro, corrompe policiais, políticos e juízes e interliga-se com o mercado de armas e de drogas. E disputa territórios a tiros, como parece ter sido o caso.
No Brasil, onde o jogo do bicho é proibido, aposta-se livremente em incontáveis modalidades de tirar dinheiro dos bobos (porque a banca, qualquer banca, ganha sempre, senão não seria banca). E quem é o maior banqueiro de jogos do país ? O Estado, é claro.
E quem são os principais interessados em manter a proibição? Os bicheiros, claro, junto com aqueles que eles empregam e corrompem.
Por que misteriosas razões se pode apostar em cavalos, mas não nos outros bichos? Em números? Em raspadinhas? Por que os pobres podem perder seu dinheiro suado em jogos apropriadamente chamados "de azar" e os ricos não podem perder o deles em cassinos luxuosos? Por que o bicho e a roleta são proibidos e os outros jogos não?
Sou um privatista militante, mas, nesse caso, certamente melhor seria se o Estado -que já está no ramo- assumisse o jogo do bicho e os cassinos. E melhor: destinasse todos os lucros à policia. Tirar essa massa colossal de dinheiro das mãos de bandidos e corruptos e usá-la contra o crime -a principal preocupação dos brasileiros.
O perigo de o bicho ser estatizado, conhecendo o nosso voraz Estado, é que seriam tantos burocratas, funcionários e escritórios, tantos salários e benefícios, tantos impostos e taxas, que sobraria pouco dinheiro para pagar as apostas. Mas já seria muito.


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