São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A militância venceu o cerco

RICARDO BERZOINI

As eleições do PT em 18 de setembro representam uma grande vitória dos petistas. Depois de mais de cem dias de cerco político, causado por graves erros políticos de companheiros dirigentes, mas amplificado e instrumentalizado pela oposição política e midiática ao nosso governo e ao partido, mais de 310 mil petistas compareceram às urnas, número superior ao de 2001.
Com isso, reafirmaram seu compromisso com o grande projeto da esquerda democrática brasileira, um Partido dos Trabalhadores democrático, amplo, de massas, capaz de ser não apenas uma alternativa eleitoral mas também um instrumento de organização das lutas populares, sindicais, contra as discriminações, por uma sociedade justa, fraterna e livre, por uma nação soberana e defensora da paz e da justiça.


O governo Lula é a resultante possível do processo que rejeitou a aliança tucano-pefelista que governou por 8 anos


O resultado das eleições internas aponta um deslocamento na correlação de forças no PT. A chapa que representa o Campo Majoritário alcançou expressivos 43% dos votos, mas deixa de ser maioria absoluta. Houve crescimento de outras forças, que se colocaram em maior ou menor grau de oposição ao Campo, com teses e avaliações bastante distintas entre si. Nos debates entre os candidatos à presidência, isso ficou bastante nítido.
Esta eleição, além de ocorrer no ápice de uma crise política que coloca em risco o projeto petista, realiza-se também no terceiro ano do governo comandado pelo PT. As avaliações do partido a respeito das virtudes e defeitos do governo Lula serão decisivas para o cenário de luta política e eleitoral de 2006 e para os destinos das esquerdas brasileiras. Poderão ou não representar o ponto de apoio para o desejo da direita de retomar o poder executivo federal e sua agenda neoliberal.
O governo do presidente Lula é a resultante possível do processo político que rejeitou a aliança tucano-pefelista que governou o Brasil por oito anos. Recebeu a missão de governar o Brasil, com 53 milhões de votos, mas sem maioria parlamentar da base tradicional da esquerda democrática. Já para disputar as eleições, fez alianças ao centro, com o PL, e buscou aliados não-partidários, entre trabalhadores, empresários e intelectuais. Recebeu um país em grave crise, com o desafio de recuperar a credibilidade, reduzir a relação dívida/ PIB, reverter as trágicas contas externas e retomar os investimentos públicos e privados.
Depois de 33 meses de governo, alcançamos o crescimento, com a inflação sob controle, batemos todos os recordes de exportação e de empregos formais gerados (3,3 milhões, 324% mais do que em todo governo passado), implantamos diversos programas sociais relevantes, com destaque para o Bolsa Família, que já atende 8 milhões de famílias. Este governo estabeleceu uma política externa inovadora nas dimensões políticas e comerciais, que permitiu uma nova perspectiva de alianças internacionais e novos desenhos das relações comerciais brasileiras.
Firmou elos freqüentes e transparentes com os movimentos sociais e iniciou a reestruturação do Estado, enfraquecido por uma década de abandono. Por tudo isso, o PT deve lutar para reeleger Lula e prosseguir com as mudanças de que o Brasil precisa.
O PT pode e deve criticar, sugerir, debater e propor, como principal partido da base, mas deve assumir claramente a defesa do governo. Como costumo dizer, este é o nosso governo e este é o nosso partido. Um partido que deve ainda estabelecer políticas para vencer as eleições nos Estados, disputar com força os espaços parlamentares federais e estaduais, fortalecer laços com movimentos populares e sindicalistas militantes. Um partido que reafirme sua condição de maior e melhor experiência partidária popular da história deste país e que supere suas crises, aprendendo com elas.
O PT precisa de mudanças nos procedimentos e na democracia interna, a fim de descentralizar informações e decisões. Precisa atualizar sua formulação estratégica bem como ampliar a formação política, a comunicação e sua política para a juventude. Mas não podemos aceitar o cerco político com o qual querem nos inviabilizar nem o linchamento sumário de lideranças que ajudaram a lhe construir e às lutas populares.
Se não pode haver impunidade, não devemos aceitar o risco da punição injusta. Os petistas de coração, que conhecem a adversidade desde a fundação, não deixam o barco na primeira tormenta. Quem o abandona mostra só ter vocação para navegar em águas calmas.
O PT está diante um de seus maiores desafios e saberá enfrentá-lo com a dignidade dos que superaram todos os obstáculos e desmentiram todos os prognósticos, criando e fazendo crescer o nosso Partido dos Trabalhadores.

Ricardo Berzoini, 45, bancário, deputado federal pelo PT-SP, é secretário-geral e candidato do Campo Majoritário à presidência nacional do partido. Foi ministro da Previdência Social (2003-4), do Trabalho (2004-5) e presidente da Confederação Nacional dos Bancários (1992-4).


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