São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2005 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A militância venceu o cerco
RICARDO BERZOINI
O resultado das eleições internas aponta um deslocamento na correlação de forças no PT. A chapa que representa o Campo Majoritário alcançou expressivos 43% dos votos, mas deixa de ser maioria absoluta. Houve crescimento de outras forças, que se colocaram em maior ou menor grau de oposição ao Campo, com teses e avaliações bastante distintas entre si. Nos debates entre os candidatos à presidência, isso ficou bastante nítido. Esta eleição, além de ocorrer no ápice de uma crise política que coloca em risco o projeto petista, realiza-se também no terceiro ano do governo comandado pelo PT. As avaliações do partido a respeito das virtudes e defeitos do governo Lula serão decisivas para o cenário de luta política e eleitoral de 2006 e para os destinos das esquerdas brasileiras. Poderão ou não representar o ponto de apoio para o desejo da direita de retomar o poder executivo federal e sua agenda neoliberal. O governo do presidente Lula é a resultante possível do processo político que rejeitou a aliança tucano-pefelista que governou o Brasil por oito anos. Recebeu a missão de governar o Brasil, com 53 milhões de votos, mas sem maioria parlamentar da base tradicional da esquerda democrática. Já para disputar as eleições, fez alianças ao centro, com o PL, e buscou aliados não-partidários, entre trabalhadores, empresários e intelectuais. Recebeu um país em grave crise, com o desafio de recuperar a credibilidade, reduzir a relação dívida/ PIB, reverter as trágicas contas externas e retomar os investimentos públicos e privados. Depois de 33 meses de governo, alcançamos o crescimento, com a inflação sob controle, batemos todos os recordes de exportação e de empregos formais gerados (3,3 milhões, 324% mais do que em todo governo passado), implantamos diversos programas sociais relevantes, com destaque para o Bolsa Família, que já atende 8 milhões de famílias. Este governo estabeleceu uma política externa inovadora nas dimensões políticas e comerciais, que permitiu uma nova perspectiva de alianças internacionais e novos desenhos das relações comerciais brasileiras. Firmou elos freqüentes e transparentes com os movimentos sociais e iniciou a reestruturação do Estado, enfraquecido por uma década de abandono. Por tudo isso, o PT deve lutar para reeleger Lula e prosseguir com as mudanças de que o Brasil precisa. O PT pode e deve criticar, sugerir, debater e propor, como principal partido da base, mas deve assumir claramente a defesa do governo. Como costumo dizer, este é o nosso governo e este é o nosso partido. Um partido que deve ainda estabelecer políticas para vencer as eleições nos Estados, disputar com força os espaços parlamentares federais e estaduais, fortalecer laços com movimentos populares e sindicalistas militantes. Um partido que reafirme sua condição de maior e melhor experiência partidária popular da história deste país e que supere suas crises, aprendendo com elas. O PT precisa de mudanças nos procedimentos e na democracia interna, a fim de descentralizar informações e decisões. Precisa atualizar sua formulação estratégica bem como ampliar a formação política, a comunicação e sua política para a juventude. Mas não podemos aceitar o cerco político com o qual querem nos inviabilizar nem o linchamento sumário de lideranças que ajudaram a lhe construir e às lutas populares. Se não pode haver impunidade, não devemos aceitar o risco da punição injusta. Os petistas de coração, que conhecem a adversidade desde a fundação, não deixam o barco na primeira tormenta. Quem o abandona mostra só ter vocação para navegar em águas calmas. O PT está diante um de seus maiores desafios e saberá enfrentá-lo com a dignidade dos que superaram todos os obstáculos e desmentiram todos os prognósticos, criando e fazendo crescer o nosso Partido dos Trabalhadores. Ricardo Berzoini, 45, bancário, deputado federal pelo PT-SP, é secretário-geral e candidato do Campo Majoritário à presidência nacional do partido. Foi ministro da Previdência Social (2003-4), do Trabalho (2004-5) e presidente da Confederação Nacional dos Bancários (1992-4). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Raul Pont: O PT começou a mudar Índice |
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