São Paulo, sábado, 01 de outubro de 2005

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O PT começou a mudar

RAUL PONT

Com a participação de 314.926 petistas no Processo de Eleições Diretas (PED), o PT deu uma firme resposta aos que apostaram no seu fim. De forma democrática, mostrando vitalidade social, nosso partido reagiu à altura dos ataques que vem recebendo.
Ao mesmo tempo, começamos a mudar o que não pode mais continuar. Dos quase 315 mil filiados que compareceram às eleições, a grande maioria votou por mudanças no próprio partido -170 mil filiados, pelo menos, indicaram a necessidade do partido enfrentar os problemas acumulados, que vão da ética ao seu programa, passando pela sua organização interna. Esse posicionamento, além de mostrar que o partido é muito mais que sua direção, evidencia que se forma uma consciência crítica dos milhares de companheiros e companheiras que compõem o PT.


Interessa um partido sem identidade programática, com dirigentes envolvidos em denúncias não esclarecidas?


Por isso, neste momento em que se inicia o segundo turno das eleições petistas, fazemos nosso o chamamento lançado por sindicalistas do PT no sentido de "uma discussão franca, aberta e responsável, onde tenhamos humildade para reconhecer erros e generosidade para retomar com vigor o pacto de unidade na diversidade que nos permitiu construir um ciclo histórico de avanços inéditos".
A tarefa de reconstruir o partido -sua estrutura organizativa, seu programa e suas utopias- passa, necessariamente, pela renovação da sua direção. Passa também por uma profunda crítica da nossa prática, tanto no aspecto da ação político-programática como na sua relação com os militantes e os movimentos sociais. Deve ser um processo de superação e de unidade, uma democracia participativa interna, com a presença ativa do conjunto dos petistas, da intelectualidade socialista e dos lutadores sociais do Brasil.
Defendemos um congresso do PT, uma constituinte petista, a ser realizado no menor prazo possível após as eleições internas. Com papel e poder para reencontrar o partido com suas origens, seus militantes, seu programa e sua base social, e, assim, fazer frente aos desafios atuais de governo.
Cabe um imenso papel à direção eleita, incluindo, naturalmente, o presidente nacional a ser definido em 9 de outubro. Quanto mais comprometida essa direção for com a consciência e vontade dos nossos filiados e filiadas, mais esse processo será democrático, unitário e criativo.
Em nossa visão, esse processo tem o caráter de refundação e renovação socialista do PT e envolve três objetivos: a renovação e atualização do socialismo petista; uma nova síntese programática da transformação do Brasil; a reconstrução da democracia petista, inclusive de suas organizações de base.
Temos clareza de que a mudança em curso no PT é essencial para um projeto de transformação do Brasil e também para a construção de um novo internacionalismo socialista, que hoje tem no Fórum Social Mundial uma de suas melhores expressões. Um projeto democrático de esquerda para o país depende, em grande medida, da capacidade de reconstruirmos e renovarmos o PT.
Entender o que está em jogo nesta disputa é vital para transformar a energia militante manifestada no PED em uma orientação política capaz de tirar o PT da crise e retomar a ofensiva na construção de um projeto de transformação social para o país.
Todos trabalhamos para que o governo Lula dê certo e conquiste um segundo mandato para honrar o compromisso que firmamos com a população brasileira ao longo dos últimos 25 anos. Para fazer esse projeto avançar, como afirmou a maioria dos petistas no primeiro turno do PED, precisamos de uma política econômica capaz de gerar desenvolvimento com distribuição de renda. Precisamos conquistar uma reforma política democrática e incentivar a participação popular. Precisamos aprofundar a reforma agrária e um conjunto de reformas que possam tirar o Brasil da condição de campeão mundial da desigualdade. É nesse processo que construiremos alianças sociais e políticas coerentes e transparentes.
É importante perguntar: que partido queremos para que esse projeto possa avançar? Interessa ao avanço do nosso projeto um partido sem identidade programática, com dirigentes envolvidos em denúncias não esclarecidas e abrindo um pesado flanco de ataque para os setores conservadores do país? É esse partido que pode ajudar a reeleição de nosso projeto em 2006?
A militância petista começou a responder a essas perguntas e seu sentido é claro: mudança de rumo, de direção. O significado mais valioso das eleições é que milhares de petistas, em todo o Brasil, estão dispostos a arregaçar as mangas e se engajar na tarefa de defesa e de reconstrução do partido. Estão dispostos a renovar e fortalecer essa vontade no segundo turno, afirmando a vitalidade de um projeto democrático de esquerda para o país.

Raul Pont, 61, professor, deputado estadual pelo PT-RS, é candidato da Democracia Socialista à presidência nacional do partido. Foi prefeito de Porto Alegre (1997-2000).


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