São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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CONSENSO ABALADO

A gangorra no mercado cambial brasileiro prossegue. Mas desta vez a guinada rápida foi para baixo: depois de subir 2,5% no início da semana, a cotação do dólar teve anteontem e ontem recuo forte, acumulando queda de mais de 5% em apenas dois dias. O alívio não ficou restrito a esse segmento do mercado: os títulos da dívida externa do setor público tiveram valorização expressiva; o risco-país caiu bastante e a Bovespa recuperou parte relevante das perdas que vinha sofrendo.
É certamente prematuro afirmar que esses sinais de melhora já configuram uma tendência firme. Mas também seria precipitado descartar o potencial impacto positivo desse movimento sobre as expectativas.
Se o alívio recente no mercado financeiro for capaz de reforçar a percepção de que não é isento de risco apostar contra o real e demais ativos financeiros brasileiros, será um fato auspicioso.
Não resta dúvida de que a alta do dólar não foi alimentada apenas por movimentos defensivos. No terreno propício criado pela escassez de dólares, naturalmente despontaram movimentos especulativos, que exacerbaram a alta do dólar, a desvalorização dos títulos da dívida externa e a queda na Bolsa. Quem embarcou na especulação e agora constata o risco de sofrer prejuízos pode passar a uma atitude mais cautelosa.
Por sua vez, a posição do Banco Central pode se tornar um pouco menos crítica. Enquanto a grande maioria dos agentes fazia apostas contra o real, a política econômica tinha poucas chances de sucesso em suas tentativas de se contrapor à onda negativista. Mas, se o consenso pessimista começar a se diluir, a eficácia das iniciativas para mitigar a instabilidade aumentará.
Mas, mesmo que isso ocorra, a situação não deixará de ser delicada. O principal fator de ameaça ao valor do real desde o segundo trimestre deste ano é a retração do crédito externo ao Brasil. Enquanto a oferta de crédito externo privado continuar muito retraída, os riscos de deterioração do quadro econômico permanecerão.


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