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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Plano Nacional de Reforma Agrária
Promover a distribuição equitativa da terra no Brasil e, portanto,
procurar caminhos para a reforma
agrária, é tarefa complexa e árdua. No
entanto não só é necessária mas urgente.
São mais de 6 milhões de famílias e
aproximadamente 25 milhões de brasileiros que podem ser considerados o
público potencial da reforma agrária
-levando em conta os trabalhadores
agrícolas sem terra e os estabelecimentos cujas áreas são insuficientes
para manter a família. Estão em nível
de pobreza extrema 3,3 milhões de famílias. É no campo que se encontram
os maiores índices de mortalidade infantil, de morbosidade e de analfabetismo.
Há razões óbvias para tornar efetiva,
o quanto antes, a política agrária e
agrícola que responda aos justos anseios e clamores do nosso povo:
a) trata-se de exigência indispensável de cidadania para consolidar a democracia em nosso país, uma vez que
não é admissível, diante de Deus, excluir tantas famílias do acesso à terra
que existe e se destina a todos. À luz da
justiça distributiva, não é possível
continuar ratificando a propriedade e
o uso da terra excessivos somente para
alguns e negar a milhões de brasileiros
os meios indispensáveis ao desenvolvimento próprio e familiar com dignidade;
b) a situação é premente, e temos de
prevenir em tempo, antes que o descontentamento da exclusão social gere reações incontroláveis, já que, em
13 anos, houve 7.240 conflitos por terra. A história dos últimos decênios
acusa injustiças e violência. Houve 970
assassinatos de 1986 a 2003 -estão na
maioria impunes e pesando na consciência de todos nós;
c) o Brasil defronta-se com o problema angustiante do desemprego. Por
que recusar aos trabalhadores rurais a
condição de possuir uma propriedade
familiar que não só assegure o seu sustento pelo trabalho mas que contribua
para melhorar a produção de alimentos no país e para solucionar o desafio
da fome e da desnutrição?
d) somente a competente reforma
agrária poderá sustar o êxodo rural
que ainda não terminou e fixar no
campo os que nele desejam viver e trabalhar desde que lhes sejam concedidas as devidas condições.
A CNBB, que tem sempre se empenhado para que se realize a justiça social no campo, em sua reunião do
Conselho Permanente, em Brasília,
publicou, ontem, importante mensagem com o título "Reforma Agrária".
Recorda a iniciativa da criação da Comissão Pastoral da Terra, em 1985, a
constante solicitude e os importantes
documentos sobre a terra. Nessa mensagem, a CNBB acolhe com satisfação
o anúncio de que o atual governo estará lançando em breve o novo Plano
Nacional de Reforma Agrária (PNRA)
e incentiva a sua pronta aplicação. O
plano, abrangente e promissor, reconhece que não basta desconcentrar a
posse da terra. É necessário garantir os
meios para a exploração da terra e a
estrutura produtiva, econômica e social.
Segue-se daí a necessidade de um esforço conjunto de nosso governo, com
o apoio e a colaboração da sociedade,
para encontrar e seguir os caminhos
concretos para a política agrária e
agrícola adequada às várias regiões do
país. Precisamos de sinais de esperança. Não há por que aguardar mais.
A reforma agrária não se fará de modo pacífico e justo sem recurso a Deus
e união de todos. Nossa Senhora Aparecida dê sabedoria e coragem a nossos dirigentes e proteja o nosso povo.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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