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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O ouro de Moscou

RIO DE JANEIRO - Em princípio, demonizar pessoas e instituições, além de banalidade, é uma burrice. Mesmo assim, há casos em que, circunstancialmente, determinada pessoa ou instituição encarna o mal, não o mal absoluto, que não deve existir, mas o mal relativo, localizado, temporário, datado. Já disseram, por exemplo, que o próprio Demônio, no fundo, é um bom sujeito, porque acredita na sua capacidade de tornar o homem pior.
Um dos casos em que o mal pode ser atribuído a um alvo específico é o FMI. E quem diz isso, agora, e disse sempre, são petistas históricos, que gastaram tempo e massa cerebral condenando a submissão da economia nacional aos preceitos e conceitos de uma entidade que, sendo necessária em alguns casos, é maléfica (e bota maléfica nisso) para países em estágio de desenvolvimento, como o Brasil.
Durante anos, as restrições feitas ao FMI pareciam coisa de comunistas lubrificados pelo ouro de Moscou. De certa forma, fazia parte da Guerra Fria entre os dois blocos que dominavam a cena internacional. Aquela instituição, nascida, senão me engano, em Bretton Woods, pouco antes do término da Segunda Guerra Mundial, destinava-se a manter o bloco capitalista amarrado a uma política econômica que impediria países então ditos subdesenvolvidos de tornarem-se independentes das decisões da matriz que zelaria pelo chamado "mundo livre".
Os mais otimistas pensavam que, com o desmoronamento do bloco dito socialista, o patrulhamento da economia dos países emergentes seria abolido ou atenuado. Ledo e ivo engano! As recentes manifestações de intelectuais petistas, mesmo sem a ajuda do ouro de Moscou, insistem na mesma tecla. Agradando ao FMI, o Brasil continuará desagradando a seu povo e desagradando a si mesmo como nação.


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