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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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TENSÃO NA UNIVERSIDADE

Num país que passou por marcantes experiências autoritárias em sua história, não deixa de ser significativo que o ministro da Educação se declare decepcionado com o baixo nível de "tensão ideológica" entre a universidade e as "forças conservadoras". Para ilustrar sua tese de que o meio universitário no Brasil tem demonstrado em nossos dias pouca "radicalidade", o ministro Cristovam Buarque, em recente seminário, recorreu a comparações com os tempos do regime militar.
Buarque chegou a afirmar que, se houvesse hoje "um golpe de Estado na Argentina e no Brasil, os militares não precisariam prender nenhum professor e nenhum aluno". Ironicamente, alguém poderia acrescentar: e também nenhum integrante do atual governo -o que faz desse imaginário golpe apenas uma hipótese ainda mais extravagante.
Obviamente é possível levantar a possibilidade de que a universidade, em sintonia com as mudanças ocorridas no Brasil e também em escala global, se mostre mais conectada aos valores do mercado do que eventualmente tenha sido em outros momentos. Isso não significa que esforços de pensamento para contrastar visões hegemônicas não venham sendo realizados.
Talvez o ministro não tenha se detido para observar o quanto seu próprio partido, o PT, tem sido questionado por ilustres acadêmicos, muitos deles filiados à agremiação. Simpósios, debates e diversas publicações ligadas à universidade já trataram com bastante radicalidade das mudanças doutrinárias por que tem passado o petismo, gerando considerável "tensão ideológica" -como gostaria o ministro- com representantes do governo.
Não se trata aqui de entrar no mérito das teses defendidas por tais acadêmicos, muitas das quais são, para dizer o mínimo, discutíveis. É forçoso constatar, porém, que há, sim, um debate de idéias, ainda que num ambiente naturalmente menos incendiado por ideologias.



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