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TENSÃO NA UNIVERSIDADE
Num país que passou por marcantes experiências autoritárias em sua história, não deixa de ser
significativo que o ministro da Educação se declare decepcionado com o
baixo nível de "tensão ideológica"
entre a universidade e as "forças conservadoras". Para ilustrar sua tese de
que o meio universitário no Brasil
tem demonstrado em nossos dias
pouca "radicalidade", o ministro
Cristovam Buarque, em recente seminário, recorreu a comparações
com os tempos do regime militar.
Buarque chegou a afirmar que, se
houvesse hoje "um golpe de Estado
na Argentina e no Brasil, os militares
não precisariam prender nenhum
professor e nenhum aluno". Ironicamente, alguém poderia acrescentar:
e também nenhum integrante do
atual governo -o que faz desse imaginário golpe apenas uma hipótese
ainda mais extravagante.
Obviamente é possível levantar a
possibilidade de que a universidade,
em sintonia com as mudanças ocorridas no Brasil e também em escala
global, se mostre mais conectada aos
valores do mercado do que eventualmente tenha sido em outros momentos. Isso não significa que esforços de pensamento para contrastar
visões hegemônicas não venham
sendo realizados.
Talvez o ministro não tenha se detido para observar o quanto seu próprio partido, o PT, tem sido questionado por ilustres acadêmicos, muitos deles filiados à agremiação. Simpósios, debates e diversas publicações ligadas à universidade já trataram com bastante radicalidade das
mudanças doutrinárias por que tem
passado o petismo, gerando considerável "tensão ideológica" -como
gostaria o ministro- com representantes do governo.
Não se trata aqui de entrar no mérito das teses defendidas por tais acadêmicos, muitas das quais são, para
dizer o mínimo, discutíveis. É forçoso constatar, porém, que há, sim,
um debate de idéias, ainda que num
ambiente naturalmente menos incendiado por ideologias.
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