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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

A esquerda está incomodada

SÃO PAULO - A comissão de frente dos intelectuais petistas está incomodada, com mal-estar por causa do "modelo fiscalista" de Lula. O que seria um "modelo fiscalista"? A dieta de proteínas do presidente? Excesso de chuleta na brasa? Não. "Fiscalista" é uma variante do adjetivo besteirol "neoliberal": o governo só trata de cortar gastos. É tolice.
Se governo economizar menos neste ano e no ano que vem, os juros subirão. É uma política tão tola como enxugar gelo. Quando a dívida pública começar a cair, talvez o governo possa gastar um pouco mais.
Por que talvez? Porque não se conhece o comportamento normal dessa economia que agora tem inflação baixa, dívida alta, muita gente massacrada no trabalho precário, fazendas e fábricas mais eficientes, mas a infra-estrutura escangalhada.
A direita faz picadinho do miolo mole esquerdóide, para o qual não existem problemas reais, escassez, discussão técnica. Tudo é questão política, de tirar de uns e dar a outros, de ganha e perde, sem mais.
Mas a direita posa de sabida. A tecnocracia da finança (dentro e fora do governo) trabalha com modelos viciados por uma década de estagnação e de mudanças estruturais na economia. Estima que o futuro próximo do país é de crescimento baixo e juros altos. Mas seus modelos são ruins, errou-se demais neste ano e mesmo entre os mercadistas reina a confusão nas previsões.
Vai ser preciso tatear para saber quais são os limites atuais da economia. Por ora, o governo tem de cortar gastos e baixar juros até o momento em que vir a economia batendo pino: consumindo demais, exportando menos, importando muito, dólar subindo, inflação à vista. Mas juros menores em 2004 e em 2005 vão permitir certa folga fiscal responsável.
Mas não basta. Falta refinaria, eletricidade, química, porto, estrada, política de comércio. Para não faltar, já era preciso estar implementando medidas para dar conta dessas carências, o que leva anos. Esse é o drama: além do besteirol "fora FMI" etc., o PT não sabia o que dizer, não tinha quadros, não tinha planos.



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