|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
A esquerda está incomodada
SÃO PAULO - A comissão de frente dos intelectuais petistas está incomodada, com mal-estar por causa do "modelo fiscalista" de Lula. O que seria um "modelo fiscalista"? A dieta
de proteínas do presidente? Excesso
de chuleta na brasa? Não. "Fiscalista" é uma variante do adjetivo besteirol "neoliberal": o governo só trata
de cortar gastos. É tolice.
Se governo economizar menos neste ano e no ano que vem, os juros subirão. É uma política tão tola como
enxugar gelo. Quando a dívida pública começar a cair, talvez o governo
possa gastar um pouco mais.
Por que talvez? Porque não se conhece o comportamento normal dessa economia que agora tem inflação
baixa, dívida alta, muita gente massacrada no trabalho precário, fazendas e fábricas mais eficientes, mas a
infra-estrutura escangalhada.
A direita faz picadinho do miolo
mole esquerdóide, para o qual não
existem problemas reais, escassez,
discussão técnica. Tudo é questão política, de tirar de uns e dar a outros,
de ganha e perde, sem mais.
Mas a direita posa de sabida. A tecnocracia da finança (dentro e fora do
governo) trabalha com modelos viciados por uma década de estagnação e de mudanças estruturais na
economia. Estima que o futuro próximo do país é de crescimento baixo e
juros altos. Mas seus modelos são
ruins, errou-se demais neste ano e
mesmo entre os mercadistas reina a
confusão nas previsões.
Vai ser preciso tatear para saber
quais são os limites atuais da economia. Por ora, o governo tem de cortar
gastos e baixar juros até o momento
em que vir a economia batendo pino:
consumindo demais, exportando menos, importando muito, dólar subindo, inflação à vista. Mas juros menores em 2004 e em 2005 vão permitir
certa folga fiscal responsável.
Mas não basta. Falta refinaria, eletricidade, química, porto, estrada,
política de comércio. Para não faltar,
já era preciso estar implementando
medidas para dar conta dessas carências, o que leva anos. Esse é o drama: além do besteirol "fora FMI" etc.,
o PT não sabia o que dizer, não tinha
quadros, não tinha planos.
Texto Anterior: Editoriais: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Reforma política mínima Índice
|