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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Ambiente
"Em relação à reportagem "Mary Allegretti deixa Ministério do Ambiente" (Ciência, pág. A22, 29/11), gostaria de tornar mais preciso meu comentário sobre as políticas para a Amazônia. É evidente que o avanço da fronteira agrícola preocupa muito a ministra Marina Silva e o governo. As decisões sobre as políticas têm sido lentas quando comparadas ao avanço desenfreado das frentes de expansão, que se beneficiam do descompasso nas ações de governo que toda transição política gera." Mary Helena Allegretti, ex-secretária de Coordenação da Amazônia do Ministério do Meio Ambiente (Brasília, DF)

Morte
"Sinto arrepios quando leio sobre a velha discussão sobre pena de morte, redução da maioridade penal e o ataque aos direitos humanos, como se eles fossem causa da violência, e não salvaguarda de todos nós contra ela, contra o desmando e contra o arbítrio. Antes de falar, é preciso saber sobre o que se está falando. É preciso ler, é preciso ir à universidade. O Núcleo de Estudos da Violência da USP possui excelentes pesquisas sobre esses assuntos. Tenho certeza de que eles não se negariam a fornecer material a quem o pedisse. Afinal, a pesquisa é alternativa confiável ao senso comum. É nela, portanto, que devemos buscar embasamento para nossas opiniões, e não em nossos "achismos" e em dores pessoais, por mais doloridas e legítimas que elas sejam."
Rita Telles (Cotia, SP)

ECA
"Gostaria que o governador de São Paulo viesse a público informar quais penas propõe para as autoridades do Poder Executivo (governadores e prefeitos) que não cumprem a Constituição Federal e a lei 8.069/90, desrespeitando as deliberações dos conselhos estaduais e municipais referentes às políticas públicas de atendimento às crianças e adolescentes e deixando de implementar as medidas socioeducativas em meio aberto -prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida e inserção em regime de semiliberdade."
Flávio Haddad, advogado, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Araraquara, SP)


"O deputado Renato Simões, ao comentar ("Painel do Leitor", 27/11) a proposta de aperfeiçoamento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) feita pelo governador Geraldo Alckmin, fala da "incapacidade em lidar com o adolescente infrator". Esquece-se o deputado que a incapacidade começa com o desrespeito ao ECA pela prefeita Marta Suplicy, que se recusa a assumir a responsabilidade de dar assistência a 4.000 adolescentes em regime de liberdade na cidade de São Paulo. A incapacidade e o desrespeito continuam quando a prefeita de São Paulo gasta na construção de um CEU, obra faraônica com finalidade eleitoral, verba suficiente para financiar pelo menos 253 creches e atender 38 mil crianças na periferia, o que aliviaria em muito as causas que levam crianças e adolescentes a cometer infrações."
Vanderlei Macris, deputado estadual pelo PSDB (São Paulo, SP)

Cinema
"Gostaria de manifestar meu total desacordo em relação aos argumentos expostos por Otavio Frias Filho no artigo "As invasões bárbaras" (Opinião, pág. A2, 27/11), a respeito do filme canadense. E o que se coloca para mim é uma questão essencial sobre o que é afinal o cinema, o que vem a fazer na cultura de hoje, o que se espera dele. Em primeiro lugar (e não vou muito além), creio que, do ponto de vista da composição da história, de seus personagens e de seu enredo, o filme já apresenta fraquezas que o aparentam profundamente com as formas televisivas mais superficiais. Todas as situações (que não são poucas, pois o filme se quer "global") borboleteiam ao redor de problemas fundamentais do mundo contemporâneo sem nunca adentrar em nenhum deles, deixando que o espectador faça "a sua leitura", estimulado pelos clichês melodramáticos mais convencionais: o câncer terminal, olhares choramingantes ao redor do doente -nos seus últimos minutos de vida-, paisagens outonais de bosques e lagos canadenses tiradas de cartões postais que contrastam alegremente com uma pitada de olhar de denúncia contra o sistema público hospitalar, imagens das torres de Manhattan sendo atacadas etc. Tudo isso embalado por uma situação absolutamente improvável, desenhada pela varinha de condão do dinheiro, muito dinheiro, de origem confusa na especulação internacional, aquele que move montanhas, aquele que realiza o sonho, que consegue criar aqui a impossível situação ideal de todo moribundo: a de ver desfilar ao seu redor todos os personagens que foram importantes ao longo de sua vida -ex-mulher, ex-amantes, filhos, amigos, estudantes, todos vivenciando o "pathos" da despedida conciliadora. Filme medíocre, superficial, com pretensões de tese filosófico-política pós-utópica. Aliás, muito disso se encontra também num outro filme fraco e sentimental, o argentino "O Filho da Noiva", que o articulista cita elogiosamente em seu artigo. Fico aqui pensando na desilusão de nossos "formadores de opinião", que parecem perder a sua capacidade crítica, rendendo-se a soluções baratas, embrulhadas no celofane de chavões estéticos e melodramáticos."
Laura J. Hosiasson (São Paulo, SP)

Trégua
"É incrível a "tolerância" com que o MST se comporta diante das falsas promessas do governo federal. No início do ano, Lula prometeu assentar 100 mil famílias. Em meados do ano, a promessa caiu para 60 mil. Mais recentemente, esse número foi reduzido para 30 mil. É muito provável que o governo não assente nem 20 mil famílias neste ano. Diante de tantas promessas não cumpridas, vem o outrora incendiário MST e, na figura de seu coordenador nacional, João Paulo Rodrigues, anuncia que o movimento suspenderá as ocupações de terra até meados de 2004, ano eleitoral. É um desaforo que esse "movimento social" paute suas ações para beneficiar eleitoralmente o PT assim de forma tão descarada e acintosa. A docilidade interessada do MST revela que o movimento também foi aparelhado pelo PT e se comporta como um "braço guerrilheiro" do partido."
Rodrigo Borges de Campos Netto (Brasília, DF)

Revigorantes
"É revigorante deparar com textos tranquilos, equilibrados e verdadeiros como o da sra. Zilda Arns em 26/11 ("Como prevenir a violência dos adolescentes", "Tendências/Debates') e o do sempre brilhante psicanalista Contardo Calligaris em 27/11 ("Em defesa de Michael Jackson", Ilustrada). Em meio a linchamentos coletivos nacionais e internacionais, Contardo Calligaris fecha sua coluna com um belo texto de Martin Niemoller (um pastor que sobreviveu aos campos nazistas). "Primeiro, eles vieram pegar os comunistas, mas eu não era comunista e não falei nada. Depois, vieram pegar os socialistas e os sindicalistas, mas eu não era nenhum dos dois e não falei nada. Logo vieram pegar os judeus, mas eu não sou judeu e não falei nada. E, quando vieram me pegar, não sobrava mais ninguém que pudesse falar por mim". Paga-se um preço por deixar-se levar pela turba ensandecida, assim como por omitir-se ou alienar-se diante das graves injustiças."
Ângela Luiza S. Bonacci (Pindamonhangaba, SP)


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