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ELIANE CANTANHÊDE
Chovendo no molhado
BRASÍLIA - Choveu torrencialmente em Brasília ontem, mas Lula
é tão sortudo que a chuva arrefeceu
justamente às 16h, quando ele subiu no Rolls Royce para o desfile em
carro aberto da sua posse.
Talvez tenha nisso um prenúncio
do que vem por aí, apesar das apostas maniqueístas entre os que prevêem um fiasco ou, no lado oposto,
um sucesso absoluto. O mais prudente é imaginar um "novo" governo igual ao anterior, com as mesmas qualidades, os mesmos defeitos, chovendo no molhado.
Do alto de sua vaidade e de sua
autoconfiança, Lula não se deu o
trabalho de tomar posse com uma
nova equipe. Pretextos há muitos
(esperar o pacote econômico e a
eleição das Mesas do Congresso...),
mas a verdade costuma ser mais
simples: ele não quis mediar disputas, agradar uns poucos, desagradar
muitos, todas essas chatices. O que
importa no governo Lula é Lula. O
resto se vê depois.
É assim que o presidente vai repetindo o primeiro mandato, que
chegou ao fim com seis ministros
do segundo escalão que foram ficando, ficando e acabaram ficando
mesmo. Quem é mesmo o ministro
da Saúde? É como o tal pacote, que
ocupa páginas e páginas de rascunhos e de jornais há meses, mas não
saiu do papel. Sem pressa, Lula contenta-se com a popularidade, a boa
vontade, uma espécie de carta
branca sem prazo.
No primeiro mandato, Lula
agüentou firme as pressões para sacudir a economia. No final, os elogios superaram as críticas em artigos, colunas, comentários, arquivando a falácia de que os jornalistas
são anti-Lula e contra o governo. Os
aliados e os amigos foram os grandes algozes. A imprensa reproduziu
o dano que eles fizeram.
Os desafios concentram-se na
necessidade de produzir e distribuir riqueza de forma consistente,
além de combater o crime organizado. Crescer e estancar a guerra
urbana são dois desafios de vida ou
morte.
elianec@uol.com.br
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