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CLÓVIS ROSSI
Popularidade virtual
SÃO PAULO - É bom deixar claro,
de saída, que o pequeno público que
foi a segunda posse de Luiz Inácio
Lula da Silva não tem a ver com popularidade, prestígio, augúrio para
o futuro etc. Tem muito mais a ver
com o fato de se tratar de repeteco
-e repetecos, em geral, causam
pouco entusiasmo.
De todo modo, a ausência de público pode, sim, ter a ver com a análise de Isidoro Cheresky, professor
de Teoria Política da Universidade
de Buenos Aires, para o número
mais recente de "Nueva Sociedad",
a revista da social-democracia internacional para a América Latina.
Contra a corrente dos que dizem
que o rosário de eleições do ano
passado na América Latina conduziu ao poder majoritariamente populistas e/ou esquerdistas, Cheresky classifica a grande maioria
dos eleitos como "lideranças de popularidade, sustentados em uma
relação direta, mas virtual, com a
opinião pública".
Ou, posto de outra forma, o apoio
aos governantes eleitos é passivo,
distante. Ou, nos termos do discurso do senador Renan Calheiros, o
eleitorado se manifesta apenas no
"silêncio do voto". O próprio Lula
admitiu, no discurso de posse, que
nunca houve, no mundo, "tão grande descrédito na política", e defendeu a necessidade de "produzir
uma cidadania ativa".
Essa passividade parece ter sido a
grande marca da posse, na medida
em que o discurso do presidente
produziu muito calor (especialmente na auto-avaliação positiva
de seu primeiro período), mas pouca luz sobre o segundo, até por ter
sido a repetição de temas, bordões e
promessas de campanha.
Vale, de todo modo, registrar
uma mudança de tom. No primeiro
discurso de posse, Lula dizia que a
"mudança" se daria "sem atropelos
e precipitações". Agora, pede "pressa, ousadia, coragem e criatividade". Muito bom. Mas, em vez de pedir, não seria melhor exibir tudo isso, na fala e na prática?
crossi@uol.com.br
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