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Na primeira infância
Estudos mostram que intervenção precoce dos governos na educação pode modificar trajetória que leva à desigualdade
SÃO DE extrema importância -e deveriam nortear o
planejamento da educação no Brasil- algumas
ideias expostas no seminário
"Educação da Primeira Infância", recentemente realizado na
Fundação Getúlio Vargas do Rio.
O encontro de economistas tinha como meta declarada "inserir a educação de zero a seis anos
de idade no centro da agenda de
políticas sociais brasileiras".
Os anos de escolaridade cresceram em todas as faixas de renda do país desde os anos 90, e o
ensino fundamental foi na prática universalizado. Mesmo quando se divide a população brasileira de 15 anos de idade de acordo
com o nível educacional da mãe,
o que em geral tem relação proporcional com a renda, é possível
notar grandes avanços.
Em 1995, os filhos de mulheres
que tinham menos de um ano de
estudo formal haviam passado,
em média, três anos na escola ao
completarem 15 anos. Em 2007,
nessa mesma faixa etária, os alunos já acumulavam, em média,
mais de cinco anos de estudo. O
tempo na escola de alunos oriundos de famílias pobres se aproxima do padrão dos mais ricos. De
1995 a 2007, os filhos de mulheres com mais de 12 anos de escolaridade passaram de seis para
sete anos de estudo aos 15 anos,
em média.
O dado preocupante surge
quando se compara o rendimento alcançado por esses diferentes
grupos em avaliações objetivas.
Tomando a nota do Sistema de
Avaliação da Educação Básica
como critério, pesquisadores
mostraram que o rendimento
dos filhos de mulheres com menor escolaridade, em 2005, seguia quase tão distante daquele
dos oriundos de famílias mais escolarizadas quanto em 1995.
Em palestra na FGV, o economista americano James Heckman, Prêmio Nobel de 2000, relacionou essa ineficiência do ensino com a carência na oferta de
educação pré-escolar. Em artigo
para o livro "Educação Básica no
Brasil" (ed. Campus), Heckman,
em companhia de três economistas brasileiros, havia mostrado que 93% da diferença cognitiva medida entre estudantes de
diferentes origens sociais aos 13
anos de idade já estava presente
aos 5 anos de idade.
Ou seja, até essa faixa etária, a
família e os diferentes estímulos
recebidos pelas crianças são decisivos para a sua capacidade no
futuro. Com o objetivo de compensar ao menos parte das deficiências no ambiente familiar
dos mais pobres, é preciso que os
governos ampliem depressa a
oferta de educação pré-escolar
de qualidade para esse segmento
da população.
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