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CLÓVIS ROSSI
A grande guerra de Genebra
DAVOS (Suíça) - Pode parecer de interesse apenas de técnicos e diplomatas a disputa entre Brasil e Estados
Unidos em torno da legislação de patentes de ambas as partes. Não é. É
uma questão política da mais alta relevância.
Para simplificar, trata-se da possibilidade de os países em desenvolvimento, como o Brasil, autorizarem
suas empresas a fabricar produtos
protegidos por patentes nos países ricos, como os Estados Unidos.
Mais especificamente, a questão gira em torno de remédios. Se uma
multinacional, dona da patente para
um remédio contra a Aids, digamos,
abusar de seu poder econômico, é ou
não lícito autorizar uma firma local
a produzir o mesmo remédio? A legislação brasileira diz que sim. Os norte-americanos acham que o Brasil viola
regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Não é uma questão apenas entre os
dois atores. "Todos os países pobres
estão esperando para ver o que vai
acontecer, para usarem (ou não) o
mesmo mecanismo", ouviu a Folha
de uma das maiores especialistas em
comércio planetário.
Da mesma forma, a briga entre a
Bombardier, canadense, e a brasileira Embraer, sobre subsídios para exportar aviões, não é uma questão localizada. De certa forma, define a
possibilidade de países em desenvolvimento ajudarem setores manufatureiros até que se consolidem e possam dispensar o suporte.
Ou, se se quiser usar o jargão dos
economistas, define se um país pode
ter uma política industrial que ajude
no seu desenvolvimento, coisa que
arrepia os liberais.
Tudo isso e mais a complexa e rica
agenda dos organismos internacionais sediados em Genebra é cuidada
por apenas 13 diplomatas tupiniquins. No geral, são alguns dos mais
qualificados quadros do serviço público brasileiro. Mas são poucos para
uma arena que, não raro, tem mais
importância que Brasília.
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