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EIXO DO BEM
É fato que, após o colapso da
União Soviética, o mundo passou a ser dominado pela única superpotência restante, os Estados Unidos, que têm a seu lado a supremacia
militar, a preponderância econômica
e financeira e uma notável influência
política. Diante de tamanho poder,
são poucas as nações ou mesmo blocos regionais que podem ousar fazer-lhes oposição, mesmo que em
nível apenas diplomático.
A União Européia (UE), até por ser
constituída majoritariamente de países aliados dos Estados Unidos, é
um dos poucos blocos que poderiam
surgir como pólo de poder político
alternativo a Washington. E, dentro
da UE, quem vem dando as cartas
nas duas últimas décadas são Alemanha e França, as duas principais forças econômicas e políticas da união.
A questão que se coloca é até onde
realmente vai a coordenação entre os
dois países.
Paris e Berlim vêm obtendo, se não
sucesso, pelo menos visibilidade ao
fazer oposição à guerra pretendida
pelo presidente George W. Bush
contra o Iraque. Também lançaram
uma proposta conjunta para modificar as estruturas da UE. Cabe perguntar se a cooperação é circunstancial ou duradoura.
Para os mais céticos, os interesses
de cada nação falarão mais alto, e a
parceria não resistirá aos atritos suscitados por temas - como política
agrícola e disciplina fiscal- que ainda separam as duas nações. Para os
mais otimistas, os interesses comuns de França e Alemanha, como
num casamento antigo, já superam
as divergências, de modo que as novas relações franco-germânicas têm
substância. Seria precipitado cravar
desde já uma alternativa, embora a
segunda hipótese pareça ser um
pouco mais verossímil.
As diferenças ainda são muitas,
mesmo num caso aparentemente
consensual como a questão iraquiana. Enquanto para a França é, desde
De Gaulle, comum colocar-se contra
a vontade de Washington, essa é
uma posição nova -e difícil- para
a Alemanha, que costumava alinhar-se quase automaticamente aos Estados Unidos em todas as grandes
questões mundiais e, desde a derrota
na Segunda Guerra Mundial, jamais
voltou a ocupar lugar de destaque no
cenário político internacional.
Mesmo que a cooperação entre
França e Alemanha venha a enfrentar
alguns sobressaltos (o que quase certamente ocorrerá), é alvissareiro
constatar que dois países que travaram três grandes guerras em lados
opostos das trincheiras nos últimos
150 anos possam tornar-se aliados
próximos. São eventos como esse
que tornam possível imaginar que,
num futuro não muito longínquo, israelenses e palestinos, indianos e paquistaneses e tantos outros hoje inimigos possam talvez celebrar uma
paz duradoura.
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