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PAINEL DO LEITOR
Governo Lula
"Acreditei num PT disposto a reabilitar
a verdade, desmascarar, corrigir e punir
as mazelas do monstro sagrado, incompetente, perdulário e vicioso da administração pública e de seus coligados.
De repente, no poder, o PT descaracterizou-se. Optou por fazer "médias" gerais.
Vocacionou-se a perdoar até a má-fé de
antigas administrações, em nome da
conciliação nacional. Ficou apenas a senadora Heloísa Helena, sozinha, desfraldando a bandeira do partido. Migrou o
resto para a mesmice.
O próprio Lula já não consegue distinguir quem são os personagens em cena.
Arrisca-se a ser digerido pela máquina
do poder, ficando desacreditado perante
a opinião pública como mentor intelectual de ações malsucedidas de seus pares.
Para que isso não aconteça, sugiro que,
paralelamente à implantação do Fome
Zero, institua-se uma "Operação Mãos
Limpas", já que lavar as mãos antes de comer sempre foi recomendável."
Francisco José Barbosa de Oliveira
(Montes Claros, MG)
"Como leitor assíduo, estou indignado
com a forma como a Folha tenta desqualificar o governo Lula e o projeto Fome Zero. Com que intenção o jornal ressalta o fato de as cidades de Guaribas e
Acauã já receberem recursos federais?
Para quem faz um jornalismo crítico e
independente, seria prudente investigar
e divulgar para os leitores os motivos pelos quais essas cidades mantêm índices
alarmantes de pobreza e exclusão."
Reginaldo da Silva Vieira (Barueri, SP)
Agricultura e protecionismo
"Fala-se muito no protecionismo dos
países europeus. É óbvio que o fazem, e
muito bem. Por que nosso país não tenta
fazer o mesmo com nossos agricultores?
Na verdade, o Brasil só protege os grandes produtores (na maioria, ligados a
multinacionais) e deixa o pequeno produtor à míngua. Por exemplo: a maioria
do leite produzido no Brasil deve-se aos
pequenos produtores. Mas os grandes
produtores de soja recebem todos os benefícios possíveis do governo. Brasileiro
come soja? É muito cômoda essa história: agradam aos grandes, e os pequenos
que se danem.
Se subsidiarem os pequenos produtores, nossa produção de leite irá aumentar
e poderemos nos transformar em exportadores. A mais difícil das soluções é
aquela que é óbvia."
Aloísio J. Antunes (Campinas,SP)
Utopia possível
"Clóvis Rossi cometeu dois erros e uma
injustiça no artigo de ontem.
1) A expressão "utopia possível" foi usada por mim muito antes de Fernando
Henrique, sendo inclusive título de um
livro de minha autoria, de 1995.
2) Publiquei um artigo na Folha em 13
de janeiro de 94, "Uma moratória com a
utopia", já debatendo a necessidade de
adequar a idéia de socialismo a um novo
processo social e político em curso.
3) A injustiça que Rossi faz, porém, é
com o filósofo marxista Ernst Bloch, que
cunhou a expressão "utopia realista", de
onde tirei o título do meu livro. Atribui,
portanto, a Bloch a quintessência da mediocridade, o que, transferido para mim,
só pode se transformar em elogio."
Tarso Genro, secretário-executivo do
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (Porto Alegre, RS)
Salários dos deputados
"Das inúmeras cartas até agora publicadas nos jornais, não houve nem umazinha que tivesse considerado, sem paixão ou inveja, os principais motivos que
conduziram os legisladores a aprovar o
aumento de frações nas vantagens que
compõem os seus ganhos.
Sendo apenas um contribuinte, mas
também responsável direto pela eleição
de alguns, dou inteira razão para o aumento. Pelos seguintes motivos: gastando montanhas de dinheiro para se elegerem, eles próprios têm de buscar a reposição. Além disso, os congressistas dedicam, com absoluta exclusividade, grande
parte das 24 horas do dia às comissões,
ao plenário e às suas bases, visando a materialização do bem comum. Também
suam e se desgastam no cumprimento
de suas promessas de campanha, oferecem os mais dignos exemplos de fidelidade aos seus partidos e eleitores, não
trocam votos por vantagens nem praticam o corporativismo, o carreirismo, o
nepotismo e o fisiologismo.
Além do mais, se compararmos os gastos de manutenção do Poder Legislativo
com os serviços relevantes que presta,
com a necessidade de leis e com os números da população, concluiremos que
são ínfimos. Eles se merecem."
Everton de Almeida (Goiânia, GO)
Planejamento familiar
"Em vários jornais, incluindo a Folha,
tem havido uma enxurrada de cartas
exortando o óbvio: só é possível controlar fome, miséria, violência e favelização
com o desenvolvimento sustentável da
sociedade. Isso inclui a implantação de
medidas de planejamento familiar nas
camadas mais pobres, as quais têm crescido geometricamente, fato que torna
cada vez mais impossível suprir uma demanda crescente por alimentos, moradia, educação etc. Só os governantes não
vêem isso. Por que será?"
Hélcio Reinaldo Gil Santana (Niterói, RJ)
Voracidade arrecadadora
"União, Estados e municípios, três sócios que cobram vorazmente seus pró-labores. Não se importam com a saúde
da empresa e, independentemente de como ela está, cobram, cobram, cobram.
Sua retirada é sagrada. Porém são grandes professores e, em matéria de sonegação, corrupção e desvio de verbas, são
nota dez. Com mestrado em algum paraíso fiscal."
Roberto Teixeira, empresário
(Londrina, PR)
Férias da prefeita
"Enquanto os paulistanos podem surfar nas correntezas das águas de janeiro e
fevereiro, a prefeita da capital poderá esquiar, com toda a sua elegância, nos Alpes suíços. As férias da sra. Marta Suplicy
podem ser plenamente respaldadas pela
lei, mas, num dos momentos mais críticos que a cidade vive, seu ato tem o claro
sentido de desrespeito à população sofrida. Política e administrativamente, é um
gesto equivocado e antipopular."
Rosa Lúcia de Alcântara (São Paulo, SP)
Patrulha da linguagem
O artigo de Claudia Antunes ("Patrulha
da linguagem", Opinião, pág. A2 de anteontem) é exemplar ao apontar as consequências nefastas do círculo vicioso
que se forma a partir dos "adeptos da
simplificação". Que, obviamente, não
são apenas economistas e consultores da
área -os "especialistas" das entrevistas
de sempre-, mas os responsáveis pela
divulgação e interpretação das informações que interessam a todos. E é sempre
alentador saber que, apesar de submetidos a rotinas que conduzem quase naturalmente a essa simplificação, ainda há
jornalistas capazes dessa crítica.
Sylvia Moretzsohn (Rio de Janeiro, RJ)
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