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ROBERTO DIAS
d.C.
QUEM sabe o ano comece de
fato depois do Carnaval, como diz a religião brasileira.
É possível que neste início de
2008 o governo consiga finalmente
saciar a fome do PMDB por cargos
em estatais. É provável que o Planalto enfim apresente sua idéia de
reforma tributária, o que decerto
fará surgir redobrado o apetite da,
por assim denominar, base aliada.
Seria uma encruzilhada e tanto.
Caso o governo leve mesmo a sério a idéia de que esse é seu "grande
projeto", coisa nada assegurada,
serão perpetrados edificantes capítulos de discussão política.
Mal dá para adivinhar o que a
maior parte dos congressistas tem
a dizer sobre desoneração, custo do
crédito, guerra fiscal, incentivo à
exportação. Mas dá bem para saber
o que realmente importará -basta
voltar ao microcosmo de debate
tributário da época da CPMF.
Entre uma lágrima de Adib Jatene e um arroubo de Paulo Skaf, era
possível admirar os argumentos de
gente como o líder do PP, Mário
Negromonte, que esgrimiu em público a frase "a bancada está sendo
mais atendida e isso vai refletir na
aprovação". (É verdade que ele até
demonstrou orgulho republicano:
"Hoje conversei com o ministro
Walfrido e nem falei de cargos".)
Impossível esquecer, ainda, a cena em que o líder do PR, Luciano
Castro, sentava-se no plenário do
Senado para garimpar o voto de um
correligionário. A falta de cerimônia de sua fala chega a emocionar:
"Devemos ter o voto dele. Com carinho, amizade e muito amor".
Democrático e indispensável, o
trâmite pelo Congresso não deixa
de ser cruel. Mas, se desistir de recorrer à pena da galhofa fisiológica,
restará ao governo a tinta da melancolia. Qual seja, enfiar seu projeto de impostos no saco onde jazem a reforma política, a segunda
mudança previdenciária e a disposição do governo Lula de confrontar interesses.
Uma situação ridícula, para economizar adjetivo, se lembrada a
ênfase com que o presidente tratou
da reforma tributária.
Lula sinalizou (ou encenou?)
preocupação com isso. Neste pré-2008, cobrou, igualmente sem cerimônia, ação política de seus ministros. Passo seguinte, José Múcio, o ministro para assuntos dessa
natureza, acenou com mais rapidez no gatilho das nomeações para
adoçar a agenda no Congresso.
Fica mal para o homem de 58 milhões de votos o papel de refém da
fisiologia. Lula sorve-a com gosto
na Câmara. E a oferece, tal como
brigadeiro em festa de criança, no
Senado. Quando a coisa engripa,
como nos nomes do PMDB para
Petrobras e Eletrobrás, lava as
mãos. Não há registro de que tenha
tentado discutir a relação.
Num país de Constituição exageradamente engessada e grande distância entre eleito e eleitor, o pique
de PMDB e demais consoantes não
termina jamais. E, assim como o
salseiro de impostos, esse Carnaval
nunca tem seu fim.
ROBERTO DIAS é editor-assistente de Brasil .
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