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CARLOS HEITOR CONY
No campo de centeio
RIO DE JANEIRO - Um jovem de
17 anos, de família rica, aluno de um
colégio para a classe abastada, leva
bomba em quase todas as matérias
e tem de voltar para casa. Antes,
questiona sua existência até então.
Conversa com um ex-professor, a
irmã, a namorada, procurando
um sentido para tudo o que viveu, e
chega à conclusão de que não há
conclusão, o jeito é voltar para
a casa do pai, que é diretor de
uma companhia.
Essa sinopse pode servir de base
para um dos livros mais importantes do século 20 nos Estados Unidos: "Catcher in the Rye", "O Apanhador no Campo de Centeio", segundo a tradução publicada no Brasil. Seu autor, J. D. Salinger, que
morreu na semana passada, aos 91
anos, foi um personagem dele mesmo, não apenas do livro que lhe deu
fama, mas de contos, entre os quais
se destaca "Um Dia Perfeito para os
Peixes-banana", sem dúvida uma
das melhores histórias curtas de toda a literatura universal.
Salinger escreveu um livro para a
juventude dos Estados Unidos em
1951, com tudo o que viria pela frente: guerras, a atração pela estrada, a
geração de Elvis Presley e dos sem
destino, o rock, a droga, a vida. O
mais sensato é mesmo voltar para
casa, porque o papai é diretor de
uma companhia.
"Catcher in the Rye" marcou um
tempo em todo o mundo. De uma
forma ou de outra, todos os jovens
daquela época se identificavam
com Holden Caulfield, que, com tão
pouca vida vivida, questionava todos os valores de uma civilização
privilegiada no sentido material.
Salinger foi mesmo um personagem estranho. Detestava badalações, nunca concordou que suas
histórias fossem filmadas, viveu
recluso, não dava entrevistas, não
se explicava. Lembra em alguns
aspectos o paranaense Dalton Trevisan, não apenas no cotidiano,
mas na obra.
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