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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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O ESTADO DO PT

Se o pouco tempo no governo torna injustas algumas das críticas ao presidente Lula, é preciso reconhecer que, dentro e fora do PT, vem crescendo a frustração com a ausência de uma política alternativa.
As propostas do PT sempre apontaram para outra política econômica e também para uma nova dinâmica no cenário político brasileiro.
Pior: como o presidente Lula e seus ministros têm sido incapazes de apontar para mudanças substantivas, ganha força a hipótese de que talvez esse modelo nem sequer tenha sido formulado pela sua equipe.
Não basta querer o consenso sobre reformas, é preciso colocar sobre a mesa uma proposta. O governo Lula tem fugido a essa responsabilidade.
A idéia de uma transição em si é oportuna, mas em tese nada impede que o governo coloque também às claras qual é o seu projeto de longo prazo para o Brasil.
Sem isso, a transição parece um fim em si mesmo, cuja única face visível é o continuísmo das políticas econômicas e das práticas políticas que sempre foram criticadas pelo PT.
Ao menos em parte essa transição em meio a um vazio de estratégias se deve a dificuldades práticas.
Depois de quase duas décadas de reformas liberais, o mero reordenamento da máquina do governo federal no sentido do desenvolvimento econômico é um desafio formidável.
No entanto o governo Lula poderia ao menos ser mais transparente e consequente se saísse do atual estado de mera reiteração do modelo econômico do governo anterior.
Se as mudanças serão microeconômicas, então que o seu sentido venha a debate, ainda que não exista o Estado ideal para a sua implementação.
É o que se esperava, contra ou a favor, de um governo petista, seja pela sua tradição de críticas ao modelo neoliberal vigente, seja porque objetivamente a política de arrocho fiscal e monetário tem sido incapaz de conter a crise inflacionária.
O continuísmo econômico está associado ao continuísmo de práticas políticas clientelistas. A ampliação da base parlamentar condicionada pela troca de cargos por apoio, sem que se explicitem as propostas e projetos em jogo, é temerária.
Os negaceios peemedebistas e o loteamento de ministérios e demais escalões tornam ainda mais difícil não apenas o surgimento de um Estado consistente com a agenda histórica do PT mas a mobilização do governo para uma estratégia coesa em torno de políticas de longo prazo.
O combate à fome parece hoje principalmente uma operação de marketing político distante no tempo. Mas a política econômica e o Estado que a executa continuam envoltos na incerteza, enquanto o país caminha para a recessão.


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