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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Dois preços

SÃO PAULO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu avaliação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas acabará aprovando por pelo menos nove votos (em 15 membros) a resolução norte-americana/britânica que é, na prática, a declaração de guerra ao Iraque.
Poderia haver veto da França, mas a análise passada a Lula diz que os franceses só o fariam se tivessem certeza de que seriam acompanhados pelos dois outros membros permanentes do Conselho de Segurança que se opõem à guerra e têm poder de veto (China e Rússia).
Como esses dois países devem abster-se, retórica antiguerra à parte, a França não vai correr o risco de um total isolamento -sempre de acordo com a análise que acaba de ser feita ao presidente.
Nesse cenário, há gente em pleno Palácio do Planalto que dá graças a Deus pelo fato de o Brasil não ter assento no Conselho de Segurança, nem permanente, como pleiteia (o que lhe daria direito a veto), nem rotativo, que assume em janeiro.
De fato, seria uma complicadíssima decisão o voto nessas circunstâncias. O Brasil já vai ficar isolado na América Latina, visto que a expectativa da diplomacia brasileira é a de que Chile e México (os dois únicos países latino-americanos no CS) acabarão votando com os EUA.
O presidente Bush, aliás, pressionou o seu colega mexicano, Vicente Fox, para que o faça, insinuando que nem abstenção é atitude aceitável para um parceiro tão próximo.
Para um governo que se dispõe a fazer uma política externa mais "pró-ativa" (para usar o léxico diplomático, às vezes abominável), seria uma tremenda sinuca de bico.
É cruelmente irônico: o governo Lula paga um preço, interno, por não mudar a política econômica e corre o risco de também pagar um preço por mudar pelo menos a ênfase da sua política externa.


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