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ELIANE CANTANHÊDE
Governo de perna bamba
BRASÍLIA - Os dois dados mais relevantes da pesquisa Datafolha de hoje: Lula está impermeável à crise, mas José Dirceu faz água rapidamente.
Enquanto o presidente mantém sólidos 60% de aprovação desde outubro, um percentual ainda maior
-quase 70%- defende o afastamento de Dirceu: 24%, o afastamento definitivo; 43%, o temporário.
Isso, evidentemente, é péssimo para
o governo. Significa que a opinião
pública teve conhecimento da crise,
identificou a responsabilidade de
Dirceu nos atos do subordinado Waldomiro e agora pede a cabeça de
uma das pernas do tripé governista.
Dirceu pode ter mil e um defeitos, a
critério do freguês, mas não lhe neguem uma qualidade fundamental:
ele tem poder e sabe usá-lo. Tem liderança no Congresso, no PT e entre os
demais ministros. Sua queda seria
um baque inestimável para Lula.
Um dos momentos mais dramáticos de FHC foi quando, em meio à
queda-de-braço entre o que se convencionou chamar de "financistas" e
"desenvolvimentistas", ele pensava
em aprumar o governo centrando o
eixo em Luiz Carlos Mendonça de
Barros e André Lara Rezende. A sacudida das privatizações das teles inviabilizou a permanência deles no
governo e o projeto de FHC foi para o
espaço. Uma perda e tanto.
Agora, o clima é também um pouco
esse. Os "financistas" (aqueles que
defendem a cartilha de juros e superávits altos) são hoje liderados por
Antonio Palocci (Fazenda). Os "desenvolvimentistas" (que têm mais visão política e querem refresco na economia), por Dirceu. Com o chefe da
Casa Civil fraco, enfraquecem-se. Até
porque a terceira perna do tripé, Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo), sempre fechou com Palocci.
O momento, portanto, é crucial para Lula e para um governo ainda tão
jovem. A crise chegou ao Planalto e
atingiu o braço direito político do
presidente. Sua alternativa não é das
melhores: manter Dirceu é ruim, e tirá-lo também seria. A popularidade
de Lula continua alta, mas isso não é
tudo. Ainda mais se o projeto de poder é, como o do PT, de longo prazo.
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