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CLÓVIS ROSSI
Lula e Aristide
MADRI - Juan Jesús Aznárez, enviado especial do excelente jornal espanhol
"El País" ao Haiti, escreveu ontem o
seguinte no perfil do deposto presidente Jean-Bertrand Aristide:
"Nascido no seio de uma família
pobre, expulso da ordem (dos salesianos) porque pregava dos púlpitos a
sublevação contra o tirano Jean
Claude Duvalier, ganhou em 1990 a
Presidência do Haiti quase por aclamação. Foi idolatrado como o Messias encarnado (...) e penetrou nas
entranhas de uma sociedade majoritariamente negra, que reconheceu-o
como seu: negro e miserável".
Qualquer semelhança com a biografia do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva é, por enquanto, mera coincidência. Espero que continue assim,
mas, antes que o fundamentalismo
petista, enfurecido e cego como anda
ultimamente, me acuse de pregar um
golpe contra Lula, recorro a uma lição de um dos ideólogos do partido, o
ministro da Educação Tarso Genro,
que dizia, em artigo publicado domingo por esta Folha:
"A denúncia (o caso Waldomiro
Diniz) pode ser extraordinariamente
positiva para o PT. Por quê? Porque
estamos duramente alertados de que
os nossos governos não são imunes a
esse tipo de infiltração e porque precisamos, todos nós do PT, estar mil vezes mais atentos às relações que somos levados a travar na nossa ação
política cotidiana".
Mil vezes mais atento é necessário,
mas insuficiente, caro Tarso. É preciso também ser fiel à própria história,
em vez de reescrevê-la depois de chegar ao poder. É preciso respeitar não
apenas princípios republicanos
(aliás, seria o mínimo a pedir), mas
também princípios políticos e idéias
defendidas ao longo dos anos.
Lula e Aristide foram iguais na origem. O que aconteceu no Haiti deveria servir de alerta ao brasileiro para
que perceba que chegar ao poder não
é o fim da história, por linda que essa
tenha sido, mas apenas o princípio. O
julgamento final virá do que se fizer
com o poder, como o demonstra, para o pior, o caso Aristide.
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