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O CRESCIMENTO DO PIB
É uma boa notícia a confirmação de que a economia brasileira, como estimavam alguns analistas, apresentou crescimento de 5,2%
no ano passado, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. O bom
resultado, contudo, precisa ser visto
à luz do contexto em que foi obtido.
Em primeiro lugar, é forçoso lembrar que o aumento do PIB em 2004
ocorreu sobre uma base extremamente baixa, uma vez que, em 2003,
a expansão foi de apenas 0,5%.
Em segundo lugar, a retomada da
atividade econômica contou com o
impulso de uma conjuntura internacional excepcionalmente favorável,
na qual inúmeros países tiveram desempenho melhor do que o brasileiro. Entre os emergentes, além da
China, da Índia e da Rússia, também
Argentina, Venezuela, Uruguai, Chile e Cingapura -para citar apenas
alguns- fecharam o ano com crescimento superior ao do Brasil.
As manifestações de euforia, portanto, embora compreensíveis, não
deixam de evidenciar o quanto entre
nós as expectativas vêm se amesquinhando sob a influência de um longo período de crescimento baixo e
descontínuo. Quanto a isso, basta dizer que, nos últimos dez anos, considerando os números de 2004, a economia brasileira cresceu em média
pífios 2,4% ao ano -o que corresponde a uma elevação irrisória do
PIB per capita de 0,9%.
A questão a ser formulada, portanto, é se a boa performance do ano
passado representa o início de uma
trajetória mais vigorosa e contínua
de expansão da economia ou se, nos
próximos anos -quando as circunstâncias internacionais dificilmente se manterão tão benéficas-,
o país repetirá a sofrível dinâmica do
passado recente.
É fato que uma das principais causas da instabilidade econômica na
década de 90 residia na fragilidade
das contas externas brasileiras. Esse
problema foi amenizado pelos bons
resultados da balança comercial a
partir das desvalorizações sofridas
pelo real em 1999 e em 2002. Os perigosos déficits externos se transformaram em superávits, num ajuste,
sem dúvida, auspicioso.
Algumas circunstâncias, contudo,
vêm contribuindo para levantar dúvidas sobre a continuidade e a consolidação desse processo. O quadro de
juros muito altos e cotação do dólar
em queda vai fragilizando a economia ao alimentar a dívida pública,
onerar a política fiscal e colocar em
risco as perspectivas do setor produtivo e das exportações.
Por certo que é desejável ganhar
competitividade em outras frentes
que não a cambial. Ainda assim, a
acirrada disputa pelos mercados internacionais, na qual países como a
China atuam de maneira extremamente agressiva, exige que o Brasil,
diante da necessidade de continuar
gerando grandes superávits comerciais nos próximos anos, mantenha
o câmbio em níveis em que o setor
privado se sinta seguro de que investir em atividades exportadoras continua a ser uma opção atraente.
No entanto a política monetária vai
submetendo todo o processo econômico à sua obcecada tentativa de
cumprir os objetivos excessivamente
ambiciosos de redução da inflação,
num quadro em que o mais sensato
seria revê-los e reescaloná-los ao longo do tempo. É uma típica situação
na qual "o rabo está abanando o cachorro", para recorrer a uma imagem freqüentemente utilizada pelo
ex-ministro Pedro Malan.
Em que pese a melhora registrada
no último ano, também despertam
inquietações as perspectivas de aumento dos investimentos e de superação dos dramáticos gargalos de infra-estrutura -sem o que não haverá
condições de sustentar o crescimento. Por fim, resta saber se o governo
Lula, que tem dado assustadoras demonstrações de incompetência política, terá condições de avançar no Legislativo com a pauta de reformas,
ajudando a criar um ambiente mais
estável e menos inseguro para novos
empreendimentos.
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