|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OS EUA E OS DIREITOS
O Departamento de Estado
norte-americano divulgou na
segunda-feira seu relatório anual sobre direitos humanos. Desta vez, infelizmente, a iniciativa deixou dúvidas quanto à sua isenção e autoridade para tratar do tema.
Para citar dois exemplos gritantes,
o texto em nenhum momento se refere ao prosseguimento da detenção,
sem processo formalizado, na base
norte-americana de Guantánamo,
em Cuba, de pessoas acusadas de
praticar terrorismo. Também passaram em brancas nuvens as atrocidades praticadas por soldados norte-americanos contra prisioneiros iraquianos no presídio de Abu Ghraib.
Aquela prisão é citada marginalmente, sem que o relatório toque na questão da tortura.
É de lamentar, portanto, que um levantamento tradicionalmente respeitado por sua seriedade e pela pluralidade de suas fontes venha a se
transformar numa ferramenta para
avalizar ou desviar a atenção dos desmandos cometidos pelos EUA.
De resto, o relatório cumpre seu
papel, independentemente dos eixos
de simpatias e inimizades do próprio
Departamento de Estado. Cuba,
mesmo na condição de adversário
preferencial no Hemisfério, merece
relatos pormenorizados de coerções
a dissidentes, mas com a paralela
constatação de que não ocorreram
execuções extrajudiciais ou desaparecimentos de ativistas anticastristas.
Aliados de Washington -como
Arábia Saudita, Egito e Jordânia-
recebem críticas formuladas em termos tão ásperos quanto os reservados aos países do "eixo do mal".
Há ainda o longo capítulo reservado ao Brasil, no qual as informações
são bem fundamentadas. Não há como negar, por exemplo, a morosidade do Judiciário ou a ineficiência da
polícia em áreas de conflito de terra.
Tampouco se pode contrastar as denúncias de assassinatos impunes de
moradores de rua e de desrespeito à
integridade física de cidadãos interrogados em distritos policiais.
No entanto esse painel pouco gratificante de episódios isolados ou tendências nos quatro cantos do planeta
teria maior credibilidade caso os
EUA olhassem para seus próprios
problemas. Nesse caso, o relatório
deveria referir-se não apenas a Abu
Ghraib e Guantánamo mas também
à aplicação maciça da pena de morte
no país e aos efeitos sobre os direitos
civis de leis de exceção criadas para
combater o terrorismo.
Texto Anterior: Editoriais: O CRESCIMENTO DO PIB Próximo Texto: Roma - Clóvis Rossi: Ucrânia, Líbano, Brasil Índice
|