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ANTONIO DELFIM NETTO
Câmbio: folclore
e fato
Temos sempre insistido que a determinação da taxa cambial "de
equilíbrio" é um dos problemas mais
vexatórios de quantos enfrentados pelo economistas. Na verdade, não existe nenhuma teoria que explique a dinâmica da taxa cambial: os modelos
mais sofisticados sobrevivem muito
pouco ao desafio permanente da realidade. À medida que os movimentos
de capital tomam maior importância
e tendem a dominar as forças de oferta
e procura geradas pela exportação e
pela importação de bens e serviços, ela
se comporta como um ativo financeiro comum, cujo preço se ajusta instantaneamente, e é propensa a um
movimento estocástico. É por isso que
se diz (mesmo diante de modelos sofisticados) que a melhor estimativa da
taxa de câmbio de amanhã é a taxa de
hoje...
Como conseqüência dessa resposta
imediata à oferta e procura de capitais
que costumam dominar amplamente
o valor das transações comerciais, freqüentemente há uma importante diferença entre a taxa de câmbio que estimula o crescimento dos investimentos no setor exportador e a que é formada no mercado. Esta é determinada nos sistemas financeiros sofisticados pelo diferencial entre a taxa de juros interna e externa, basicamente. Se
o Brasil tem uma coisa moderna e sofisticada, é o seu sistema financeiro, de
forma que a arbitragem entre as taxas
de juros se faz por toda a sorte de operações físicas e derivativas imagináveis. É por isso que a intervenção do
Banco Central no mercado físico é incapaz de modificar a taxa de câmbio
de maneira permanente. É certo que
precisamos aumentar nossas reservas,
hoje em US$ 54 bilhões -mas que,
quando ajustadas pelos critérios do
FMI, se reduzem à metade. O problema é que o grande esforço do Banco
Central encontra limites na expansão
da base monetária ou no aumento do
endividamento público. A única solução possível (no curto prazo) é eliminar o amplo espaço de arbitragem
com uma tributação enquanto não for
possível reduzir a taxa de juro interna.
De qualquer forma, em meio século
de experiência com a economia brasileira, aprendi que, sobre a taxa de
câmbio, existem pelo menos duas versões: a primeira, produto de um folclore criado pelo grande administrador Wolfgang Sauer, que afirma: "Não
importa qual seja o seu nível atual, a
taxa de câmbio de equilíbrio é 30% superior".
A segunda, muito mais séria e que
deve ser entendida como uma verdadeira "lei", afirma:
"Quando o governo se organiza para
mostrar que a taxa de câmbio é a correta, é porque ela está errada, não importa quão sofisticados sejam seus argumentos".
Namorando com o câmbio valorizado por sua própria política monetária,
para ajudá-lo no cumprimento da
"meta inflacionária", o governo prepara para o país uma armadilha mais
séria do que parece. Pode levar algum
tempo, mas é certo que ela se fecha e
leva à morte súbita! Brincando com o
câmbio no seu primeiro mandato,
FHC nos levou ao FMI duas vezes em
oito anos... Só agora estamos nos livrando dessa tutela.
Se as condições externas se complicarem, não estará essa política de juros-câmbio preparando uma volta
gloriosa ao FMI antes do fim do primeiro mandato de Lula?
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br
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