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CARLOS HEITOR CONY
Fidelidade a quê?
RIO DE JANEIRO - Ninguém discute que a reforma política é uma necessidade urgente para colocar a vida nacional em trilhos mais eficientes e
adequados à nossa realidade. Alguns
de seus itens são e serão polêmicos
por muito tempo. Dois deles me parecem dificultar um consenso: o financiamento das campanhas e a fidelidade partidária.
O primeiro é de difícil execução e de
controle problemático. Haverá sempre um atalho para que grupos interessados continuem privilegiando
partidos e candidatos. Não acredito
que haja lei ou fiscalização capazes
de impedir as doações por cima ou
por baixo do pano.
O segundo, a fidelidade partidária,
necessária, em tese, em tese também é
fácil de ser aplicada. Mas poderá resultar numa permanente negação da
vontade do eleitorado. São poucos os
que votam em partidos. O eleitor vota em candidatos. E não existem partidos com um ideário definido e constante.
Até a última eleição, considerava-se o PT uma exceção.Tinha programa de pensamento e ação, o "logos"
e a "práxis" que se exige de qualquer
partido. Bastou chegar ao poder, e
mesmo um pouco antes, e o PT alterou discurso e prática. Para ganhar
nas urnas, o partido dos trabalhadores priorizou a elegibilidade em detrimento de seu programa básico, em
nada se diferenciando dos demais,
cujo programa único é chegar ao poder. E, uma vez no poder, em nome
da governabilidade, continuou violentando pontos fundamentais que
lhe davam cara e coragem.
Do lado e fora, o eleitor pode mudar de partido, procurando outro
que considere melhor ou, desanimado, não procurar mais nada. Não há
fidelidade partidária para o eleitor.
Como exigir do detentor do mandato a fidelidade a um programa
que muda de acordo com os apetites
por cargos e verbas? Ou, como vemos
agora, quando as energias do partido estão concentradas em reeleger
uma equipe que esqueceu o programa vendido ao eleitorado?
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