São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Fidelidade a quê?

RIO DE JANEIRO - Ninguém discute que a reforma política é uma necessidade urgente para colocar a vida nacional em trilhos mais eficientes e adequados à nossa realidade. Alguns de seus itens são e serão polêmicos por muito tempo. Dois deles me parecem dificultar um consenso: o financiamento das campanhas e a fidelidade partidária.
O primeiro é de difícil execução e de controle problemático. Haverá sempre um atalho para que grupos interessados continuem privilegiando partidos e candidatos. Não acredito que haja lei ou fiscalização capazes de impedir as doações por cima ou por baixo do pano.
O segundo, a fidelidade partidária, necessária, em tese, em tese também é fácil de ser aplicada. Mas poderá resultar numa permanente negação da vontade do eleitorado. São poucos os que votam em partidos. O eleitor vota em candidatos. E não existem partidos com um ideário definido e constante.
Até a última eleição, considerava-se o PT uma exceção.Tinha programa de pensamento e ação, o "logos" e a "práxis" que se exige de qualquer partido. Bastou chegar ao poder, e mesmo um pouco antes, e o PT alterou discurso e prática. Para ganhar nas urnas, o partido dos trabalhadores priorizou a elegibilidade em detrimento de seu programa básico, em nada se diferenciando dos demais, cujo programa único é chegar ao poder. E, uma vez no poder, em nome da governabilidade, continuou violentando pontos fundamentais que lhe davam cara e coragem.
Do lado e fora, o eleitor pode mudar de partido, procurando outro que considere melhor ou, desanimado, não procurar mais nada. Não há fidelidade partidária para o eleitor.
Como exigir do detentor do mandato a fidelidade a um programa que muda de acordo com os apetites por cargos e verbas? Ou, como vemos agora, quando as energias do partido estão concentradas em reeleger uma equipe que esqueceu o programa vendido ao eleitorado?


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